Por: Gabriel Rattes

Serrano Football Club completa 109 anos de história

Festa da torcida serranista em partida no Estádio Atílio Marotti neste ano de 2024 | Foto: Henrique Lima

 

Em 29 de junho de 1915, um grupo de dirigentes do antigo Terra Santa Futebol Clube estavam insatisfeitos com a situação do time, e decidiram se reunir para fazer mudanças. A partir disso, foi fundado o Serrano Football Club. Azul e branco foram as cores escolhidas para compor o uniforme do clube que se tornou o primeiro campeão oficial do município. Posteriormente ganhando o título de “O Clube mais querido da cidade”. Neste ano de 2024, o clube completou 109 anos de história e títulos. Dentro da sua casa, o Estádio Atílio Marotti, conhecido por todos como Atilhão, se passaram muitos craques e ídolos, não só do futebol brasileiro, mas do futebol mundial. Foi ali que surgiu para o mundo, Manoel Francisco ‘Garrincha’ dos Santos. Futebolista brasileiro, ponta-direita e considerado por muitos o melhor driblador da história do futebol.

A atuação do clube não se restringiu apenas ao futebol. O Serrano teve equipes de hóquei, basquete, tênis de mesa, vôlei, entre outros. Mas foi no futebol que o clube fez história, principalmente depois que ingressou no profissionalismo, em 1979. Além de Garrincha, grandes ídolos, como Milton, que integrou a seleção brasileira olímpica de 1988, o goleiro Acácio, que foi reserva na Copa do Mundo de 1990, Anapolina, que em 1980 eliminou as chances do Clube de Regatas do Flamengo de conquistar o tetracampeonato estadual, também passaram por lá.

Para entender mais profundamente sobre a história deste clube centenário, entrevistamos Francisco José Theisen, de 62 anos de idade. Torcedor que vivencia e acompanha o clube há mais de 50 anos. Chicão, como todos o conhecem, possui grandes histórias com o Azulão, participa da torcida organizada “Sou Serranista Sim Senhor” e acompanhou todo o crescimento do futebol profissional no cenário brasileiro.

“O Serrano representa a minha luta necessária. Pelo meu estilo de vida, minha condição sócio-política, embora nunca tenha me envolvido com política, eu sou um cidadão de posicionamento de esquerda, trabalhador e justamente o Serrano representa isso na sociedade petropolitana. O clube nasceu num barracão, alí onde hoje é a Igreja Terra Santa, em 1915, e foi um clube nascido de gente simples, trabalhadora. Tanto que o Serrano abria o estádio do Terra Santa para as peladas dos garçons, dos pedreiros, dos pintores, enquanto que naquela época existia uma elite toda configurada na sociedade”, enfatizou Francisco.

Início de uma paixão

Chicão conta que a paixão começou quando tinha apenas 10 anos de idade, conhecendo a história do clube através de livros que ganhou na época e por influência de seu pai, José Theisen Filho. “Meu pai começou a me contar histórias de quando ele era goleiro de futebol pelo Serrano nos anos 30. Me levou um dia no Ginásio Afonso Paoni (ginásio de futsal do clube) e foi lá que ele me apresentou o Serrano. Eu nunca tinha ido, e então ele disse assim: ‘Você pode torcer para o clube que você quiser, mas nunca torça contra o Serrano. Foi o clube que eu joguei e que me ajudou na formação como pessoa’. A partir daí eu comecei a ter meus primeiros contatos com o Serrano”, conta.

Futebol profissional

Francisco conta que em 1977 o clube anunciou que iria começar a disputar o futebol profissionalmente. “Eu saía todos os dias do colégio para ver o estádio ser ampliado. Eu vi aquele estádio crescer, a arquibancada, a cobertura, enfim, isso tudo foi dando alegria e ânimo para aquele menino que tinha na época, 17 anos. O Serrano representa tudo aquilo que eu penso como sociedade, um clube do povo, vindo do povo e para o povo”, completou.

Então, em 1979, o clube passa a integrar a primeira divisão do Campeonato Carioca até o ano de 1981. Em 1980, uma noite inesquecível para os torcedores serranistas. O time enfrentou o elenco do Flamengo, no Atilhão, pelo segundo turno do Carioca. O clube da Gávea contava com craques do futebol brasileiro como: Zico, Tita, Adílio, Leandro e Júnior. Todos achavam que ia ser uma goleada do Flamengo, mas não foi bem isso que aconteceu. Com um gol de Anapolina e uma atuação inesquecível do goleiro Acácio, os Leões da Serra bateram o elenco do Flamengo pelo placar de 1x0. Para mensurar a grandeza de tal feito, o mesmo elenco do Flamengo veio a ser campeão Mundial no ano seguinte da disputa.

Mas para Francisco, o momento mais emocionante com o clube foi a inauguração dos refletores do Atilhão contra a seleção do Kuwait, em 1980. “Muita gente vai dizer logo que é aquele jogo contra o Flamengo, ou algum outro jogo de futebol contra um grande clube, mas para mim a maior emoção que eu tive no Serrano foi na inauguração dos refletores. Eu vou a pé para os jogos, e tem um ponto da rua onde conseguimos observar o estádio por completo em uma visão de cima. Para mim essa é a imagem que um dia eu vou querer ver outra vez. Será uma volta emocionante rever aquele estádio iluminado”, disse.

Dentre os títulos mais importantes que vivenciou está o campeonato internacional de 1980, realizado em Nova Friburgo, a segunda divisão do Campeonato Carioca em 1992 e 1999. Chicão também acompanhou o clube durante a disputa da segunda divisão do Campeonato Brasileiro e sonha em poder acompanhar o clube mais uma vez em uma competição de âmbito nacional. “Seria realmente uma alegria muito grande voltar a ver o Serrano disputar um torneio nacional. É uma situação que ainda está um pouco longe. Tomara que se encurte para que eu consiga ver o Serrano novamente no cenário nacional. É um sonho, não é muito difícil, basta ter organização, administração e a torcida apoiar mais aqui na nossa cidade”, finalizou.

Amor passado em gerações

Nas arquibancadas, Francisco agora passa todo o seu amor e conhecimento pelo clube às novas gerações. Dentre essas pessoas, está Gustavo Afonso, torcedor de 21 anos que acompanha o Serrano desde os 16. “O Serrano é a nossa ideologia de vida. Se o time ganha, a gente fica bem, se perde, a gente fica mal. Tudo que a gente faz é voltado pro Serrano, a gente pensa no Serrano 24 horas, fala do Serrano 24 horas”, enfatizou.

Gustavo esteve presente na reforma do Estádio em 2019 e afirma ter sido uma das maiores emoções com o clube. “Um pouco antes da pandemia, a gente pintou o estádio. Foi quando a gente espalhou o escudo do clube pelo Atílio e escrevemos a emblemática frase ‘O Clube do Povo’. Então, com certeza, ter feito isso junto com os companheiros de torcida foi a minha maior emoção”, afirmou, enfatizando o sonho de ainda ver o clube disputar uma competição nacional. “Queremos o título da Copa Rio e voltar para a primeira divisão do Campeonato Carioca. Voltar a disputar uma competição nacional é o nosso maior sonho, porque aí a gente poderia correr atrás do clube pelo Brasil todo. É a nossa maior meta”, finalizou.