Por: Leandra Lima

Comissão busca resgatar e documentar memória negra

Comissão vai reivindicar as memórias e narrativas retiradas do projeto cidade imperial | Foto: Leandra Lima

A Comissão Especial Sobre a Memória Negra e Trabalhadora de Petrópolis, um trabalho organizado pela Coletiva Feminista Popular, foi instaurada na Câmara Municipal, no dia 13 de junho, com um objetivo claro e preciso de resgatar, resguardar, investigar, documentar e preservar a história e as contribuições das comunidades negras e trabalhadoras da cidade. Visando assim promover a justiça histórica evidenciando narrativas silenciadas na construção da "Cidade Imperial", que tem como marca registrada o império e a nobreza que é visível em quase toda esquina do centro histórico.

"Petrópolis trabalha com memória, mas não a que queremos retratar. É uma cidade histórica, você anda pelo centro e consegue registrar uma memória a cada esquina. Então, não é como se não existisse esse viés cultural, não estamos inovando, mas, sim, aderindo uma narrativa, a partir de outra perspectiva, porque existem as narrativas da população negra e trabalhadora que não são contadas nesse projeto de cidade. Quando pegamos uma comissão e colocamos as classes para contar, é significativo, pois impacta nesse ponto da narrativa de construir uma história que será usada para restituir, melhorar, denunciar e também construir algo em cima. Como políticas públicas que conversam diretamente com o cotidiano dessas pessoas, principalmente de uma cidade que selecionou a história", ressaltou Débora Pena, integrante da comissão e da Coletiva Feminista Popular.

Segundo Ester Guerra, também integrante do projeto e da Coletiva, a comissão especial integra pesquisadores, estudiosos e a comunidade. A dinâmica do trabalho envolve parcerias, uma delas, até o momento, é com o Quilombo do Tapera e o Núcleo de Estudo Afro-brasileiro e indígena (NEABI). Em cada encontro são discutidos temas pertinentes ao cotidiano, o histórico de presenças negras, entre outros temas que englobam o turismo descentralizado de base comunitária. No final das intervenções, que têm um prazo de 90 dias corridos, será projetado um documento legislativo que registre essa memória, antes apagada.

"Essa junção de todos os setores, legislativo, acadêmico e lideranças comunitárias, nos bairros e territórios, é fundamental, porque a construção da memória da classe operária, trabalhadora e da população afro diaspórica é construída a partir da oralidade. Então, nós não temos espaços institucionais para marcar essa história e apresentar outras narrativas, então conseguir materializar a oralidade num instrumento que será reconhecido pelas instituições, é muito importante, traz uma responsabilidade muito grande, mas também um compromisso histórico bem marcado", enfatizou Ester.

Dentro do projeto já teve alguns desdobramentos, como o protocolo de instauração do 'Dia Municipal da Mulher Quilombola', que será comemorado no dia 25 de julho. Outra ação foi a criação de um projeto de lei que visa não homenagear escravocratas, seja em nomes de ruas, bustos, para que seja uma pesquisa profunda, para que não contribua com a violência simbólica. Tem também o 'Disque Racismo', entre outros, que reforçam a potência histórica do povo preto na região. "É muito importante ter um produto como esse na Casa Legislativa, porque é daqui que vem as políticas públicas que vão mudar realmente as vidas dessas pessoas que contribuíram tanto e por conta de toda uma estrutura e do racismo não tiveram acesso a muitos equipamentos sociais", reforçou Débora.

Para Ester, falar da memória da cidade é reivindicar emprego para a população em geral, reivindicar o turismo que passa para outro lugar, e contar outras narrativas importantes para a construção da identidade de um grupo.