Por: Leandra Lima

Escritora vence barreiras e cultiva sonhos através dos livros

Escritora atribui à mãe encorajamento que recebeu ao longo da vida para não desistir | Foto: Arquivo pessoal/Angelica Paes

Sonhar é um instinto natural do ser humano, desde de crianças ele é cultivado em cada indivíduo, quando perguntam o que desejam ser quando crescer, ou quando se conectam com algo que se identificam, como por exemplo quando meninos e meninas falam que querem ser astronautas, artistas, professores, médicos, bailarinos entre outros. Desde da infância sonhos se tornam algo para se almejar e para ser feliz em todas fases da vida, mas muitas vezes a realidade impede que alguém sonhe e por isso é importante incentivar desde das crianças à adultos a importância de mantê-lo vivo, e é com esse espírito que a escritora Angelica Paes direciona seus livros, desenvolvendo uma temática voltada em rompimento de barreiras e concretizações.

Angelica é a materialização da própria escrita. Ela uma mulher negra, começou a escrever poesias quando criança, aos 9 anos de idade, lia para os colegas de classe sempre que tinha uma nova, porém por possuir o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDH) e distúrbio de aprendizado conhecido como 'dislexia', escrevia as coisas ao contrário e não conseguia focar, então todo mundo começou a perceber esses episódios dela que se mostravam em algumas matérias na escola, para ela o mais difícil era o português. "Tinha muito medo de escrever na sala porque saia errado, mas eu amava as poesias e a escrita", revelou a artista.

Na sua jornada escolar alguns educadores a viam como uma pessoa que não seria algo na vida, não alcançaria o 'sucesso'. "Estudava em uma escola particular, era bolsista e a única negra dentro da sala. Tinha a 'Amanda do cabelão', uma menina linda que conversava comigo, mas a professora falava que só a Amanda seria 'alguma coisa na vida' e as outras pessoas ao redor. Teve um dia que ela chegou na sala perguntando qual é a profissão de vocês, o que vão querer ser, aí foi falando um por um, até que chegou a minha vez e falei quero ser professora, jornalista, escritora. Nessa hora ela falou, escritora você não pode, porque é "burra e retardada", negra e da favela! Para ela eu podia ser qualquer coisa, menos escritora. Na hora fiquei triste, mas falei que eu poderia ser o que eu quisesse, e ali veio o meu pensamento, eu vou ser o que eu quiser, vou correr atrás, batalhar, vou ser o que quero ser! Depois dessa situação cheguei em casa e chorei, minha mãe viu e me incentivou ainda mais a correr atrás dos meus objetivos. Minha mãe guerreira sempre é uma das minhas fontes de inspiração, ela lutou para que eu tivesse o melhor", relatou Angelica.

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Angelica ao lado dos colegas e incentivadores | Foto: Arquivo pessoal/Angelica Paes

Incentivo

A escritora que nasceu no Rio de Janeiro, mas que atualmente mora em Petrópolis trabalha na Companhia Municipal de Desenvolvimento (Comdep) na área da 'Coleta Seletiva' e representa a cidade e a instituição com sua escrita em diversas partes do mundo, seguiu e hoje a partir dos estímulos de sua mãe e colegas de profissão, já publicou 8 livros. A autora lançou seu primeiro livro em 2018, chamado o "Dia em Forma de Poesia", nele estão todas as poesias que escreveu aos nove anos. Depois do primeiro, os outros vieram e trouxeram grandes frutos. Em 2019 através da obra "A Menina Solitária", ganhou o Prêmio Talento Helvético-Brasileiro no Salão do Livro de Genebra, na Suíça. Outro destaque está no livro "As Periféricas" que foi parar na Academia de Artes Independente de Boston, nos Estados Unidos, onde Angelica ganhou prêmio pela a obra e tomou posse na academia.

A literária também tomou posse na Academia de Letras de Garanhuns, em Pernambuco, no dia 5 de dezembro de 2023. Agora ela está prestes a receber uma nomeação na Academia de Letras de Goiás, em novembro deste ano. Além disso ela vai levar o livro que acabou de ser lançado, em maio, no primeiro Festival Literário Internacional de Petrópolis (Flipetrópolis), titulado "A menina que não podia ser escritora por ser negra" para a Argentina, onde vai receber o Prêmio Evita Perón, em Buenos Aires. Para que ela consiga ir até o destino ela está promovendo uma rifa para levantar recursos.

Olhando a caminhada que têm feito, a menina que ouviu que não poderia ser escritora, reforçou o quão a ajuda e o incentivo da mãe a fortaleceu. "Minha mãe maravilhosa, aquela ali lutou, sempre dizia, minha filha vai estudar. Ela fazia faxina, trabalhava pra poder ajudar a gente, eu e minha irmã, fazia de tudo para termos estudo. Então fazia de tudo, como uma periférica, ela me deu do bom e do melhor, às vezes eu via que ela ficava sem, mas fazia pra gente. Vendo a situação muitos diziam para ela me jogar fora por causa dos meus transtornos, eu demorei a andar e a falar, porém ela não desistiu de mim, afirmava "a menina vai conseguir!" e estou aqui, conquistando o meu espaço", disse.

Sonho

Um dos livros da artista que resumi a força dos sonhos, é a "A Magia dos Sonhos", onde retrata a história de uma menina que andava para todos os lugares vendendo trufas de chocolate, para concretizar seu sonho de lançar um livro fora do país. "Ela vende bombons, igual a mim (Angélica), que também vendia. Nele a menina diz que vai vender bombons construir uma varinha mágica e pra todo lugar que chegar vai falar do seu livro que chegaria em outro país. Nele as pessoas questionam 'vai pra fora? Mas você vai pra onde menina? Me diga o intuito da venda da trufa, e ela responde - o intuito é que eu vou levar meu livro pra fora do país! - Tá e vai lançar onde? Ela concretiza seu sonho assim como a minha realidade", expressou Angelica Paes.

Angelica traz para as obras a importância de sonhar e nunca desistir, além de promover uma reflexão sobre problemas sociais que permeiam o cotidiano das pessoas, como o racismo, o preconceito e a depressão. "Todos os meus livros falam de não desistir do sonho, sempre coloco, insista, persista, invista, conquiste, mas nunca desista dos seus sonhos! Falo de igualdade também, para que as pessoas largarem de vez o preconceito, chega de um lado negro e do outro branco, vamos viver igualdade. Chega de negro você não pode, pode sim e deve ser o que quiser! É preciso dar um basta no preconceito contra o TDAH, não somos retardados. Pessoas que possuem o TDAH são muito inteligentes. Foco na importância de motivar o outro, como falei minha mãe me motivou muito, por isso que eu tenho essa história, e passo isso para as pessoas", reforçou.