Por: Leandra Lima

Mudanças climáticas passam a integrar o currículo escolar

Educação climática pode contribuir para uma consciência coletiva de prevenção | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Ministério da Educação está com um novo modelo de atuação na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Agora a PL nº 6.230/2023, que substitui a Lei nº 9.795/1999, vai garantir que temas relacionados às mudanças do clima, proteção da biodiversidade, riscos, vulnerabilidades e desastres socioambientais no contexto atual do Brasil, sejam tratados dentro das instituições de ensino, como escolas e universidades.

A petropolitana Pamela Mércia, pós-graduanda em Política Climática e Diretora Executiva do Instituto Todos Juntos e Ninguém Sozinho (TJNS), organização voltada à justiça climática, ressalta a importância de trazer esse debate para dentro dessa esfera educacional, principalmente para Petrópolis e outros municípios da Região Serrana, devido ao histórico de tragédias socioambientais.

"A educação é um fator determinante. Falando de Petrópolis e todo seu histórico com tragédias socioambientais, imaginando que não estamos seguros e que podemos passar pela mesma de 2022 ou até pior, ter educação climática é indispensável. Os jovens do Brasil e de Petrópolis precisam conhecer e debater a pauta principalmente nas escolas. Seria ideal ter uma matéria só para esse tema, que é extenso e muito diverso", disse.

Outro ponto levantado por ela é que o TJNS pensando nessa movimentação, protocolou este ano, na Câmara Municipal junto ao mandato da Coletiva Feminista Popular, um projeto de lei para tornar obrigatório a 'Educação Climática' nas escolas municipais da cidade. A ação do grupo, veio antes mesmo do presidente Lula sancionar a PL nº 6.230/2023.

"Obter conhecimentos relacionados a fenômenos como aquecimento do planeta, quem são os responsáveis, o que é emergência climática e como a população é atingida, é fundamental para que crianças e jovens passem a entender e tratar as consequências das mudanças do clima. Além disso, é importante que sejam motivados a modificar suas condutas, colaborando na sua adaptação àquilo que já é uma urgência em escala mundial", enfatizou.

Ansiedade Climática

Um recorte que vem junto com as questões climáticas é o impacto delas na saúde física e mental das pessoas, principalmente dos jovens. Atualmente um termo denominado, ansiedade climática e a eco ansiedade, vem sendo colocado em pauta. O tema trata de uma angústia que vem das crises climáticas, pois não há garantias do que pode ocorrer no futuro na região onde estão inseridos, o racismo ambiental pode aguçar ainda mais essa questão. Viver em uma realidade onde não se tem uma estrutura para lidar com desastres como Petrópolis, a tendência é que a maior parte da população adoeça mentalmente.

Esse assunto foi um dos temas que Pamela Mércia, tratou em uma audiência pública que discutiu política climática no Estado, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), em março deste ano. "As pessoas estão extremamente afetadas com ansiedade climática, e com isso, os indivíduos se auto prejudicam, acabam entrando no mundo das drogas e álcool, por não encontrarem auxílio. Por isso, é importante ter um plano de adaptação climática em Petrópolis, que olhe para o psicológico dessas pessoas, principalmente por conta dos inúmeros casos de ocorrências de deslizamentos, desalojados, vítimas fatais, entre outros", ressaltou o ponto durante o debate.

Com a revitalização do PNEA a representante do TJNS reforça que é uma oportunidade para que o público juvenil passe a compreender as causas desses eventos. Perguntada sobre se essa transformação amenizaria os efeitos da ansiedade climática entre o grupo, ela ressalta que o projeto serve mais como uma ferramenta de reflexão. "Não diria que amenizaria, afinal, perder a casa, os familiares, vizinhos, amigos, toda uma rede de suporte, causa traumas para o resto da vida, ainda mais quando falamos de crianças e jovens. Mas, penso que eles passariam a compreender as causas do porquê estão passando por isso e poderia incentivá-los a se engajarem na luta por adaptação e resiliência. O que consequentemente os despertarão para acompanhar, construir e cobrar de perto o poder público a partir do conhecimento e compreensão das causas das tragédias na cidade", explicou.