Por: Gabriel Rattes

Internações de bebês com doenças respiratórias aumentam

As mudanças climáticas e a baixa cobertura vacinal são as principais hipóteses para o aumento | Foto: Arquivo/Agência Brasil

As internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) registraram um recorde em todo o país no ano de 2023. De acordo com um levantamento realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), foram 153 mil internações no último ano, uma média de 419 por dia, o que corresponde a um aumento de 24% em relação ao ano anterior. É o maior número registrado nos últimos 15 anos. O levantamento informa, ainda, que o SUS desembolsou R$ 154 milhões em 2023 para tratar os bebês internados. De acordo com a Prefeitura de Petrópolis, ano passado foram registradas internações de 418 crianças com sintomas respiratórios, e em 2024 já foram 271 internações.

O estudo do Observa Infância, divulgado neste mês de julho, analisou taxas de internação por região do país e revelou uma tendência de queda até 2016. Entre 2016 e 2019, os dados variaram para mais ou menos de acordo com a região. Em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, as internações tiveram uma queda média de 340%. Já os anos seguintes foram de aumentos constantes, até alcançar o recorde da série histórica, em 2023. Outro fato observado pelo estudo foi de que o SUS desembolsou cerca de R$ 53 milhões a mais que no ano pré-pandêmico de 2019 para tratar os bebês internados.

Segundo os números fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Petrópolis, o número de internações na cidade em 2024 já é cinco vezes maior que o índice de 2020, quando foram apenas 47 internações. Em 2021, esse número foi 172 e em 2022 foram 297 crianças.

Para o pesquisador Cristiano Boccolini, coordenador do Observa Infância, as mudanças climáticas e a baixa cobertura vacinal infantil são as principais hipóteses para o aumento das internações. "A redução na vacinação contra doenças respiratórias, possivelmente devido à pandemia de covid-19, e as condições climáticas extremas podem ter contribuído para a vulnerabilidade dos bebês a infecções respiratórias graves", explica. "Por isso, é fundamental manter a caderneta de vacinação de bebês e crianças atualizada. Lembrando que também é importante que as gestantes estejam com as vacinas em dia, já que as mães garantem os anticorpos dos bebês nos primeiros meses de vida".

Boccolini reforça ainda que a vacina VSR (vírus sincicial respiratório), já aprovada pela Anvisa, seja incorporada pelo calendário do SUS. Segundo o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), realizador da pesquisa, os dados de internação utilizados no estudo foram obtidos no Sistema de Internações Hospitalares do SUS e os dados de nascimento foram extraídos do Sistema Nacional de Nascidos Vivos entre os anos de 2008 e 2023.

Observa Infância

O Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto aos sistemas nacionais de informação. As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (FMP/Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.