Funcionários do Museu Imperial fazem paralisação
Movimento segue reivindicação nacional por Plano de Carreira
Nesta quarta-feira (24), o Museu Imperial, localizado na cidade de Petrópolis, amanheceu de portas fechadas, devido a paralisação promovida pelos servidores federais da cultura filiados ao Ministério da Cultura (MinC). Os colaboradores pedem a implementação do Plano de Carreira da Cultura e reivindicam melhores condições de trabalho e a adequação do orçamento para manutenção e aprimoramento dos serviços. O protesto acontece de forma simbólica em todos os equipamentos de cultura ligados ao MinC pelo Brasil, com intuito de reforçar a necessidade de reestruturação do planejamento da União perante as unidades museológicas.
“A nossa reivindicação é uma pauta que já dura mais de 20 anos, que é o plano de carreira da cultura. Duração de uma carreira condizente com o grau de complexidade dos nossos trabalhos nas instituições de cultura, especificamente também nesse caso de hoje, aqui, nos museus. Somos historiadores, arquivistas, museólogos, bibliotecários, e uma série de carreiras, e profissionais especializados, dedicados, que não têm, na verdade, um plano de carreira que mantenha os servidores no Ministério da Cultura. Para terem uma ideia, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que é o órgão que administra diretamente o Museu Imperial, teve uma evasão de 56% dos seus trabalhadores. Porque o grau de qualificação que nós temos não é valorizado pelo governo federal. Então, os servidores, acabam migrando para outras carreiras, para outros ministérios, e nós estamos trabalhando com apenas 44% da nossa força de trabalho”, explica, Marcos Felipe de Brum Lopes, historiador do Ibram, e diretor do Sindicato Intermunicipal dos Servidores Públicos Federais dos Municípios do Rio de Janeiro (Sindisep).
Segundo a museóloga do Museu Imperial, Ana Luisa Cargo, a reivindicação é necessária para proteger a história e o equipamento, pois o quadro de colaboradores do espaço veio caindo drasticamente durante os anos, antes havia cerca de 90 funcionários e hoje, restam apenas 12. “A situação é difícil, existem muitos servidores que estão para sair da unidade. Então se hoje, já não conseguimos dar conta de todas as funções que se acumulam, não quero imaginar o que pode acontecer. Por isso é fundamental que o nosso trabalho seja reconhecido, digo mais, não adianta o Ministério propor um concurso sem um plano de carreira eficiente, porque não é atrativo aos olhos, pois não valoriza a formação dos trabalhadores da área”, enfatizou.
O acúmulo de funções foi um dos pontos altos discutidos entre os colaboradores, onde relataram que existe uma sobrecarga de trabalho que afeta o ambiente e a saúde, pois alegam que o estresse aumenta e acaba causando fadiga extrema, que os leva a buscar novas perspectivas de trabalho.
Dentro desse cenário, Marcos ressalta que o problema em geral afeta a funcionalidade dos espaços. “Todos os serviços que a gente presta à sociedade, com exposições, pesquisa científica, atividades educativas nos museus, ficam comprometidos, porque não tem mais servidores suficientes para manter essas atividades. Então, nosso objetivo é chamar a atenção para as necessidades do setor. Paramos hoje para que possamos reabrir no restante do ano e no futuro, de forma adequada”, disse.
Corte de Verbas
Outro ponto levantado em meio a paralisação, foi a questão do corte de verba Federal de R$ 17 milhões, que seriam destinados ao Instituto Brasileiro de Museus. Já que pode trazer prejuízos diretos para os 27 museus administrados pelo instituto, incluindo o Imperial. “O Congresso Nacional Brasileiro em sua configuração atual é bastante avesso a cultura, precisamos reconhecer isso. Ele cortou 10 milhões de reais do orçamento e isso compromete muito a qualidade dos serviços e as condições de trabalho. Os servidores também estão bastante preocupados, pois isso vai prejudicar a manutenção das políticas públicas de cultura e museu, além do acesso à memória que são muito caras ao setor museal”, expressou, Marcos.
Salvar a memória
Os museus exercem um papel fundamental no resgate das memórias, e é uma das instituições que promove o acesso e a democratização da arte a grupos diversos de pessoas, por meio de atividades que propõem visitação coletiva e outros instrumentos. Para André Lippmann, servidor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), as unidades museológicas são guardiões de conhecimento, nelas existem peças únicas que contêm um marco na história de um país. “A cultura é tudo, não existe uma nação sem cultura. Se não investem nela não investem no povo. Por isso esse ato aqui é simbólico e muito importante para que todos saibam o que está acontecendo”, frisou.
O Museu Imperial vai voltar com as atividades normais nesta manhã, porém o protesto continuará através das redes sociais oficiais.
Sobre a paralisação, ao Correio Petropolitano, o Ibram disse que reconhece o movimento e suas pautas de reivindicações e afirma que o governo, na figura do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e do Ministério da Cultura estão em tratativas sobre o pleito.
Questionada sobre possíveis acordos e soluções para as reivindicações, o Ministério da Cultura não se manifestou até o final desta edição.