Por: Bernardo Filho*

OPINIÃO: Até onde vai a inocência

Assistimos, nesta semana, a tudo o que aconteceu na eleição venezuelana. Se alguém disser que se surpreendeu com o resultado, no mínimo está se enganando ou quer enganar outros.

A velhice tem tudo de ruim embutida nela, menos o fato de trazer consigo a experiência de anos de vida. Quando digo isso, falo do alto dos meus muitos anos, bem vividos. Quem acreditou que se tiraria um ditador do poder, por via democrática (pelo voto), ou é inocente ou mal intencionado.

Ditador só se tira do poder, por meio de uma revolução, ou porque ele perdeu a vida (morreu ou foi assassinado).

Por que iniciei esta semana, por este assunto? Respondo: porque jogo de cartas marcadas encontramos em todos os patamares do poder.

Quarta-feira (31/07) tivemos uma votação para eleição dos membros representantes da sociedade civil, para compor o Comutran (Conselho Municipal de Trânsito). O governo

municipal indicou nomes para que, se bem votados, fossem eleitos como membros, (a sociedade civil também, em reação, bem que tentou modificar este jogo, obviamente sem resultado).

Para o governo municipal dominar este conselho é de suma importância, senão vejamos: contratualmente, uma vez ao ano, os contratos de permissão e de concessão para exploração do transporte público, devem sofrer um reajuste de tarifas; assim sendo, o Setranspetro entrega ao Comutran uma planilha (que alega ter sido criada pelas empresas de ônibus) para o Conselho analisar e aprovar.

Diga-se de passagem e por oportuno, esta retro mencionada planilha nunca foi auditada. Ninguém sabe se os dados nela contidos são verdadeiros.

O Comutran (onde o governo municipal detém a maioria dos membros que obedecem a vontade do prefeito) invariavelmente, ano após ano, aprova esta planilha, sem nenhum estudo técnico, porque esta é a vontade do gestor municipal de dar um reajuste às empresas.

Aprovada a planilha pelo Conselho, o prefeito apenas homologa o que o seu conselho aprovou, lavando as mãos do ônus da concessão do aumento da passagem e jogando perante a população, a responsabilidade para o Comutran .

O mais lamentável é que nos últimos anos, os aumentos sempre foram acima da inflação e em contrapartida, nenhum assalariado recebeu reajuste de salário acima da inflação.

Portanto, a inocência foi maculada ou, na verdade, nunca existiu.

*Advogado, Professor Universitário e Jornalista