Setembro Amarelo chama atenção para sinais da depressão

Campanha conscientiza sobre acolhimento e atenção profissional no combate ao suicídio

Por Leandra Lima

Entre os sintomas, está a perda do prazer na vida cotidiana

Por Leandra Lima

Estado de desencorajamento, perda de interesse, tristeza profunda, sofrimento e solidão são algumas das características da depressão, considerada como a doença do século XXI, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para muitos, a patologia se encontra em lugar distante, como aquela famosa frase "isso nunca vai acontecer comigo", porém a realidade é que as pessoas não percebem os primeiros sintomas e os confundem com situações desgastantes do dia a dia, como o estresse e a fadiga.

Segundo a psicóloga petropolitana Yasmin Pereira Pujol, a depressão é uma doença mental complexa, que tem sua origem multifatorial, podendo ser desenvolvida por alterações nos fatores biológico, psicológico, social e até mesmo espiritual. Existem diferentes níveis da doença, sendo eles, leve, moderado e grave, se desenvolvendo de forma gradual. E para ser identificado, o indivíduo deve ter uma percepção maior do próprio estado emocional, pois como dito anteriormente, o início pode ser confundido com estresse entre outros fatores habituais do cotidiano. Abaixo vamos acompanhar o relato de uma jovem, de 19 anos, que conviveu com depressão desde a infância, em torno dos 11 anos, sua identidade será preservada.

"Um dia, durante o 5º ano, passei a cobrir meus cabelos com a touca do moletom do casaco da escola, todo dia antes de ir para aula, passou a ser automático. No outro dia, já não falava com muitas pessoas da minha sala, sempre que tentava, me sentia frágil e vulnerável. Para mim era o ambiente escolar e decidi mudar de instituição. Achei que isso era uma resposta ao bullying que havia sofrido e assim que chegasse em um novo espaço, voltaria ao meu normal. E voltei por um tempo e depois me vi na mesma situação. E assim fui seguindo até onde aguentei...", relata.

A jovem explica que teve de dar uma pausa nos estudos durante o 8º ano, por conta de uma piora no quadro que até então, não entendia que se tratava de depressão. "Parei no tempo, fui reprovada na escola, mas para mim era mesmo que nada. Minha rotina era deitar, comer, quando dava fome e mexer no celular, às vezes virava a noite sem dormir por conta disso, o que culminou em criar pensamentos horríveis sobre mim mesma, me perguntava o que estava fazendo, por que eu existia nesse mundo, se ia fazer falta", relata a jovem.

A psicóloga Yasmin ressalta que a depressão é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que vão além da tristeza profunda persistente. "As pessoas podem sentir a perda do prazer em coisas que normalmente praticam no dia a dia. Ocasionando em alterações do apetite, no sono, podendo desenvolver insônia ou hipersonia. É comum que pessoas com esse diagnóstico tenham um fluxo de pensamentos negativos sobre si, e em casos mais graves pensamentos recorrentes de morte, a ideação suicida, sem um planejamento específico", explica.

Atualmente, a jovem ouvida pela reportagem, conseguiu com ajuda profissional e apoio familiar a recomeçar, e hoje foca na sua recuperação. "As pessoas acham que é frescura, que sou fraca, me mandam procurar uma igreja, para me curar. A questão é que ainda existem muitos tabus nessa área da saúde mental, isso às vezes me desencoraja, escuto também frases do tipo 'você tem tudo para ser feliz', o que realmente isso significa, não sei. No momento só quero me tratar e retomar os meus planos, não quero mais viver por viver, sinto que tenho que reencontrar meu propósito. Tem dias que estou mais disposta, alegre e aberta a falar sobre a minha condição, e tem outros que prefiro me isolar e está tudo bem, desde que eu entenda como posso balancear a vida", enfatizou.

Como ajudar

Para a psicóloga, escutar ativamente a pessoa que passa por esse quadro, demonstrando empatia, validando seu estado e sentimentos, evitando falas que coloquem em dúvida o seu real estado, é uma forma de auxílio. "Incentive-a encontrar profissionais da saúde qualificados para o tratamento adequado, psicólogos e psiquiatras. O trabalho conjunto e uma boa rede de apoio trazem resultados muito mais satisfatórios. Ajude também nas tarefas do dia a dia, comemorando cada pequena conquista da pessoa, e proponha pequenas atividades ao ar livre, ou momentos de qualidade com amigos, mas sempre respeitando o tempo do indivíduo. Tenha paciência, o processo de tratamento leva tempo e não é linear, pode haver recaídas", ressalta.

Também existe o Centro de valorização da Vida, no disque 188, nele é possível conseguir ajuda e apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente. No canal as pessoas podem relatar os sentimentos sem pressão, não existem julgamentos. Nos municípios, os Centros de Atenção Psicossocial oferecem atendimento com psicólogos e psiquiatras, além de atividades psicoterapeutas.