Possível polarização nas cidades da Região Serrana

Por Gabriel Rattes

A equipe do jornal Correio Petropolitano fez um levantamento sobre a quantidade de vagas que cada partido conquistou nas Câmaras Municipais nos 16 municípios da Região Serrana. Ao analisar os dados, foi constatado que 15 deles elegeram a maior parte de vereadores ligados a partidos de direita ou centro-direita. Apenas o município de Duas Barras apresentou uma superioridade no número de políticos de esquerda. Para o cientista político e professor na Universidade Federal Fluminense (UFF), George Coutinho, essa distribuição poderá afetar a Câmara dos Deputados em 2026. "As legendas do campo da esquerda, e a variação mais moderada de centro-esquerda, se apresentam enquanto uma franca minoria política especialmente no estado do Rio de Janeiro. Destarte isto, pode implicar em vantagem das legendas de direita e centro-direita na disputa por votos para a Câmara dos Deputados em 2026", afirmou.

"Disto deriva que as esquerdas na região serão irrelevantes? Não. Justamente o processo de formação e a cultura política da esquerda abrem a possibilidade de que possam dar o tom dos debates em momentos específicos onde a falta de acesso a cadeiras do legislativo ou à máquina do executivo não sejam empecilhos decisivos", completou o professor e especialista no assunto.

Para George, a superioridade de partidos de direita nas Câmaras significa que a polarização política na Região Serrana poderá acontecer em disputas dentro da mesma ideologia política. Muitas vezes por interesses próprios ou brigas locais. "Em síntese, isto implica que processos de disputa locais, seja de tensão entre executivo e Câmaras, ou de embates internos nos próprios legislativos, tendem a se dar mais entre grupos e oligarquias de um mesmo lado do espectro político - a direita no caso - do que o par de oposição usual esquerda versus direita", explica o professor.

Prefeitos com
mesma ideologia

A pesquisa realizada pelo Correio Petropolitano tomou como base uma tabela divulgada pela Folha de São Paulo, com dados disponibilizados pela Câmara dos Deputados e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que caracteriza os partidos políticos brasileiros em esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Outro destaque, é que dos 15 municípios da Região Serrana - que já definiram seus líderes políticos no primeiro turno -, em dez deles o partido do prefeito eleito acompanhou a ideologia da maioria dos vereadores eleitos. Foram eles: Bom Jardim; Duas Barras; Sumidouro; São José do Vale do Rio Preto; Teresópolis; Trajano de Moraes; Cachoeiras de Macacu; Cordeiro; Guapimirim; e Nova Friburgo.

Em Bom Jardim, de 11 vagas do legislativo, nove foram ocupadas por partidos de direita (ou centro-direita) e o prefeito eleito foi do Partido Progressistas (PP). Em Duas Barras, a superioridade da Câmara foi com partidos de esquerda e o prefeito eleito foi do partido Solidariedade (centro-esquerda).

Em Sumidouro, nove de onze vagas foram preenchidas por partidos de direita e o prefeito eleito foi do PL. São José do Vale do Rio Preto elegeu quatro vereadores de partidos característicos do centro e o prefeito eleito acompanhou essa maioria, sendo um representante do MDB. Em Teresópolis a maioria esmagadora na Câmara foi de partidos de direita, o que refletiu no prefeito eleito, sendo um representante do União Brasil.

Na cidade de Trajano de Moraes, de nove vagas do legislativo municipal, oito foram direcionadas à direita. O prefeito eleito é um representante do PL. Em Cachoeiras de Macacu, 85,7% da Câmara estará composta por vereadores de direita e o prefeito eleito é um representante do PP. Em Cordeiro, todas as vagas do legislativo foram preenchidas por candidatos de direita ou centro-direita, o que foi refletido no prefeito eleito, já que é um representante do PL.

No município de Guapimirim, oito de dez vagas foram preenchidas por partidos de direita, e o prefeito eleito é do partido Agir (centro-direita). Em Nova Friburgo, 12 das 21 vagas foram preenchidas por vereadores de direita e o prefeito eleito é do PL.

"Os interesses concretos de fatiamento do poder, a disputa nos processos de tomada de decisão, a nomeação de cargos de confiança, isto no cenário desenhado pelo voto dos eleitores da Região da Serrana, tudo tende a ser modulado por interesses 'paroquiais', digamos assim, refletindo apetites mais imediatistas dos envolvidos. A questão ideológica, tudo o mais constante, fica em segundo plano nessas disputas", enfatizou o professor da UFF.

Polarização
Câmara x Executivo

Em cinco cidades da Região Serrana, a ideologia de partido do prefeito eleito não acompanhou a maioria na Câmara. Nesses casos, podem ocorrer as polarizações políticas entre a esquerda versus direita, refletindo no Executivo versus Legislativo Municipal. Foram elas: Cantagalo; Carmo; São Sebastião do Alto; Santa Maria Madalena; e Macuco.

Em Cantagalo, oito vagas da Câmara foram preenchidas por partidos de direita, enquanto três foram de partidos de esquerda. O prefeito eleito é um representante do Solidariedade (centro-esquerda). No município de Carmo, seis vagas foram direcionadas à candidatos de direita, enquanto cinco foram direcionadas à candidatos do centro. O prefeito eleito é um representante do PSD (partido do centro).

Na cidade de São Sebastião do Alto, seis vagas foram direcionadas para partidos de direita, uma vaga para o centro e duas para a esquerda. O prefeito eleito é representante de um partido de centro-esquerda, o Solidariedade. Em Santa Maria Madalena, quatro vagas do legislativo serão ocupadas por candidatos de direita, dois do centro e três de esquerda. O prefeito eleito também é um representante do Solidariedade. E em Macuco, seis vagas foram conquistadas por representantes de direita, uma por candidatos do centro e duas por partidos de esquerda. Mais uma vez, o prefeito eleito foi do partido de centro-esquerda, Solidariedade.