Por: Leandra Lima - PETR

Dia de "Zumbi" ressignifica luta da comunidade negra

Monumento é uma homenagem à comunidade negra que lutou pela liberdade na região | Foto: Leandra Lima

Por Leandra Lima

Há 53 anos atrás, em 20 de novembro de 1971 iniciou os primeiros passos para a formalização oficial do "Dia da Consciência Negra" ou o "Dia de Zumbi" no Brasil. O ponta pé partiu quando o grupo Palmares realizou um ato no 'Clube Social Negro' abordando a luta contra o preconceito no país. Na época o grupo utilizou como símbolo da ação, a figura de Zumbi de Palmares, líder quilombola que lutou contra a escravidão, e resistiu as investidas da coroa portuguesa durante 20 anos. A celebração foi fundada oficialmente em 1978 quando o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação (MNUCRD) realizou manifestações em prol dos direitos dos negros. Contudo só foi institucionalizada em 10 de novembro de 2011, pela a Lei Nº12.519. E atualmente é considerado feriado nacional.

Simbolismo

Segundo o Professor José Luiz Souza de Lima, formado em História e Sociologia, a data vem para valorizar e celebrar a luta da população negra frente a sociedade brasileira, criada em cima de um sistema estrutural. "O dia 20 de novembro, é muito importante para a nossa história, principalmente para Petrópolis que tem um passado escravocrata. Ele vem para refletimos sobre o que é o racismo na sociedade brasileira. Não é apenas a manifestação de xingamento ou de exploração das pessoas de uma determinada condição social, econômica ou política. É muito mais que isso. Vivemos numa sociedade que foi estruturada a partir da escravidão. O que temos que entender com essa comemoração, é que faz parte da nossa luta contra o racismo estrutural", disse.

O 20 de novembro é marcado por ações em prol de direitos da população negra. A data mostra a força do povo preto em assumir o protagonismo da própria história e reivindicar os espaços de memórias que foram historicamente embranquecidos. "A sociedade precisa construir instituições, relações que possam combater o racismo dentro de todas as esferas. Porque a mesma, está organizada em torno de uma ideia de que o branco é superior aos negros, e isso foi inventado historicamente. Precisamos desconstruir essa ideia, então comemorar zumbi, comemorar o Quilombo de Palmares e todos os outros quilombos como espaço de resistência, é também espaço de existência", ressaltou José Luiz.

Outra característica da data é que é lida como uma ferramenta política, como um símbolo de resistência. Além disso, os debates em meio os movimentos transcrevem os percalços que o processo escravista reverbera na sociedade, e em como o corpo social enxerga a comunidade negra atualmente, já que na construção social pós escravidão se tornou uma fase de exclusão e marginalização, o regime político não se responsabilizou em criar condições para inserir essas pessoas na sociedade de forma digna.

Apesar das dores, outro ponto que marca a celebração é a riqueza cultural, tecnológica, e os saberes ancestrais que seguem de geração a geração, potencializando e enaltecendo os traços dessas histórias, que estão cada vez mais presentes nos dias atuais. "Assim como o Zumbi lutou no Quilombo de Palmares para construir uma nova ideia de sociedade, uma nova forma de relacionamento, também precisamos lutar por isso. Então, é nosso dever, e compromisso, com uma nova sociedade, falar de Zumbi, e de ideias antirracistas. Dia 20 de novembro é dia de resistência e de existência também", ressaltou o professor.

Marco de Zumbi em Petrópolis

Em 2009, foi montado na Praça da Liberdade, em Petrópolis, o busto de Zumbi de Palmares, considerado um símbolo da resistência negra no Brasil. O monumento é uma homenagem à comunidade negra que lutou pela liberdade na região. A praça era onde o povo preto buscava alforria, e se encontravam para promover ações que visavam libertar outros escravizados no período colonial.

O busto foi implantado através de frentes e coletivos negros da cidade em conjunto com o governo Federal, que realizou o feito por meio de políticas públicas, buscando resgatar memórias e marcos históricos apagados durante o Império e a República.