Por: Redação e Agência Brasil

Campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres

Campanha leva em consideração a dupla vulnerabilidade da mulher negra | Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

O programa Viva Maria aderiu à Campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, com um recorte especial sobre a situação das mulheres negras no Brasil. O programa recebe a professora Renata Parreira, especialista em história afro-brasileira e africana, para discutir as razões que tornam as mulheres negras as principais vítimas de violência.

No Brasil a campanha dos 16 Dias de Ativismo começou no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares, e segue até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Viva Maria explica que a campanha é adaptada a realidade de cada país e no caso do Brasil, por exemplo, leva em consideração a dupla vulnerabilidade da mulher negra. As mulheres negras entre 16 e 24 anos têm 3 vezes mais chances de serem estupradas que as mulheres brancas.

Além da violência física, psicológica e sexual, as negras sofrem também a violência racial em todos os lugares.

Com saudações afro-latinas e em sintonia com o movimento, Viva Maria reforça seu compromisso em dar voz às mulheres negras e em mobilizar a sociedade para construir um país mais justo e sem violência. Até o fim da campanha, o programa seguirá trazendo especialistas e ativistas para aprofundar o debate sobre a realidade das mulheres negras no Brasil.

Cenário da violência

A atual estrutura social ainda faz com que milhares de vozes sejam silenciadas em todas partes do mundo e principalmente no Brasil, que até 2019 ocupava o 5° lugar do ranking dos países que mais matam mulheres. Esse fato só reforça que a cultura do silêncio em torno do sofrimento feminino, ainda é muito forte, além de ressaltar que os estigmas criados em cima do patriarcado desde séculos passados, continua a enclausurar mulheres.

Todo esse sufocamento gera uma série de problemas relacionados à violência contra o grupo em diversas camadas sociais. Em 2023, de acordo com os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cresceram todos os tipos de violência contra a mulher. O levantamento aponta que 258.941 vítimas de agressão denunciaram, 38.507 reportaram casos de violência psicológica, 77.083 de stalking, 778.921 de ameaças. Houve também 8.372 vítimas de tentativas de homicídio e 2.797 de feminicídio.

Violência obstétrica com recorte de raça

Um recente estudo feito pelo o Ministério da Saúde em conjunto com a Fiocruz mostra que a morte de mães negras é duas vezes maior que a de brancas. Dados da pesquisa apontam que, em 2022, enquanto o número de mortes maternas está em 46,56 para mulheres brancas, no caso das mulheres pretas, é mais que o dobro: 100,38 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. No caso das pardas, a incidência é de 50,36. Nos anos de 2020 e 2021, durante a pandemia de covid-19, a diferença também foi significativa: em 2021, a Razão de Mortalidade Materna (RMM) ficou em 194,8 no caso das mulheres negras (127,6 em 2020); 121 para brancas (64,8 em 2020) e 100 para pardas (68,8 em 2020). Segundo o Ministério, considerando o recorte de mulheres pretas, é importante destacar que dados similares foram registrados em um período muito anterior à pandemia, em 2016, mulheres pretas somaram 119,4 mortes de 100 mil nascidos vivos contra 52,9 em brancas.

O estudo feito pelas instituições relembra um caso que retrata bem o racismo e mortalidade materna de mulheres negras, trazendo à tona a história de Alyne da Silva Pimentel Teixeira, que morava no bairro de Belford Roxo, no Rio de Janeiro. No dia 14 de novembro de 2002, Alyne, negra e com 28 anos, estava no sexto mês de gestação, quando buscou assistência na rede pública de saúde, com dores abdominais e náuseas. Após ser mandada de volta para casa pela primeira vez, voltou ao hospital e foi constatada a morte do feto. Após horas de espera, foi submetida à cirurgia, o quadro se agravou e sua transferência para outro hospital foi indicada. Na outra unidade médica, esperou horas no corredor e faleceu dois dias depois, por conta de uma hemorragia digestiva resultante do parto do feto morto.

Hoje, 21 anos depois, esse problema persiste, 19,8% das mulheres pardas e 18,7% de pretas tiveram que peregrinar para conseguir atendimento médico contra 14% de brancas. Frente aos números destacados pela pesquisa, o Brasil assumiu uma meta junto às Nações Unidas de redução das mortes para 30 até 2030.