Por: Redação

Psicóloga analisa a inclusão do Burnout em classificação da OMS

Cerca de 30% dos trabalhadores são afetados pela doença | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Desde o início deste ano, o Brasil passou a adotar a nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre as mudanças mais significativas está a inclusão da Síndrome de Burnout no rol de doenças ocupacionais, um passo importante para reconhecer os impactos do esgotamento no ambiente de trabalho como questão de saúde pública. A partir dessa atualização, a síndrome passa a ser oficialmente reconhecida como uma doença relacionada ao ambiente de trabalho, impactando diretamente nas estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento.

De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores no Brasil são afetados pela condição, colocando o país como o segundo no ranking mundial de casos. Estima-se que 33 milhões de brasileiros convivam com o burnout, que já se tornou uma das principais causas de afastamentos e aposentadorias, com respaldo do INSS e da Justiça.

A psicóloga petropolitana Vanessa Siqueira analisa a relevância dessa inclusão no CID-11 e os desafios enfrentados pelos trabalhadores e empresas. "O burnout é um esgotamento físico e emocional causado por estresse crônico no trabalho. Imagine um carro que nunca faz uma pausa para abastecer: cedo ou tarde, ele para de funcionar. Reconhecer a síndrome como uma doença ocupacional é essencial, pois incentiva empresas e governos a tratarem o problema com a seriedade que ele exige", comenta.

Segundo ela, as condições do mercado de trabalho brasileiro têm contribuído significativamente para o aumento dos casos. "Jornadas longas, metas irreais e a falta de pausas criam ambientes de alta pressão", observa.

Profissionais da saúde, educação e gestão estão entre os mais vulneráveis, devido à combinação de carga horária extenuante, falta de recursos adequados e pressões constantes. "Imagine um professor que precisa dar conta de várias turmas, com recursos insuficientes, corrigir provas e ainda lidar com problemas emocionais dos alunos, sem ter recebido treinamento para tal. Isso sobrecarrega e aumenta o risco de burnout. Há também a falta de políticas efetivas para promover a saúde mental no trabalho, especialmente em setores altamente demandantes. No caso dos profissionais da saúde, por exemplo, eles têm que trabalhar em turnos longos, lidando com emergências e vidas em risco, sem tempo para se recuperar", acrescenta.

Os sinais mais comuns de burnout incluem exaustão emocional, dificuldade de concentração, distanciamento mental do trabalho e sensação de ineficácia. Alterações fisiológicas, como problemas de sono e dores musculares, também são frequentes. "A terapia cognitivo-comportamental ajuda a ressignificar pensamentos disfuncionais, enquanto mudanças no estilo de vida - como exercícios, lazer, técnicas de relaxamento e apoio social - são fundamentais para a recuperação", explica a psicóloga.

A inclusão da síndrome de burnout no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada pela Câmara dos Deputados no ano passado, e o reconhecimento da doença como ocupacional pela OMS são avanços importantes. Todavia, Vanessa acredita que as empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer.