Reciclagem de resíduos chega a 8% no Brasil

Catadores são responsáveis por dois terços dos resíduos que chegam à indústria

Por Folha Press

Em 2023, 6,7 milhões de toneladas de resíduos como plástico, vidro, metais e papelão foram enviados para a reciclagem

Por Folha Press 

A reciclagem no Brasil atingiu 8% do total de resíduos sólidos urbanos com o trabalho de catadores informais, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2024, lançado nesta semana.

O estudo elaborado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema) reúne dados de 2023 e aponta que o Brasil produziu quase 81 milhões de toneladas de resíduos no ano passado, o que dá 382 quilos por brasileiro por ano.

Em 2022, o relatório calculou que o país reciclou 4% de seus resíduos a partir de dados da coleta seletiva dos municípios. Ao incluir dados dos materiais encaminhados pela indústria recicladora também por catadores autônomos, o Panorama 2024 chegou à taxa de 8,3%. Isso quer dizer que, em 2023, 6,7 milhões de toneladas de resíduos como plástico, vidro, metais e papelão foram enviados para a reciclagem no país.

Segundo o estudo, catadores informais de materiais recicláveis são responsáveis dos resíduos que chegam à indústria recicladora enquanto a coleta seletiva dos municípios envia desses materiais para reciclagem no Brasil.

"Isso demonstra que estamos ainda muito atrasados na coleta seletiva", afirma Pedro Maranhão, presidente da Abrema. "Precisamos incentivar as prefeituras a criar e melhorar a coleta seletiva. Até porque, quando o município implanta esse serviço é porque deixou de desperdiçar resíduos no lixão."

Segundo Maranhão, como os catadores informais focam na coleta daquilo que tem valor no mercado da reciclagem, o aproveitamento dos materiais selecionados por eles também é maior do que aquele que chega às unidades de triagem via coleta seletiva municipal. O estudo aponta que dos 4,2 milhões de toneladas de resíduos recicláveis coletados pelas prefeituras do país, 52,2% ou cerca de 2,2 milhões de toneladas são de fato aproveitadas para a reciclagem.

Para o presidente da Abrema, os dados evidenciam que a reciclagem tem muito o que avançar no Brasil. Na Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia, mais de 55% dos resíduos são reciclados, segundo dados do Global Waste Management Outlook 2004, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Na América do Sul, apenas 6%. Na América Central e Caribe, 11%.

Segundo Carlos da Silva Filho, consultor da ONU e um dos autores do relatório do Pnuma, 32% dos resíduos sólidos urbanos no Brasil são a chamada "fração seca", ou seja, os materiais potencialmente recicláveis. "Se 8% do total de resíduos estão sendo reciclados, isso significa que ¼ da fração seca está sendo coletada de maneira diferenciada e desviada do fluxo tradicional dos resíduos. Esse é um indicativo importante", avalia.

De acordo com Maranhão, o atual regime de tributação do setor é um entrave importante. "É absurdo tributar material reciclado, que fica mais caro que o material virgem. Temos que zerar a tributação da reciclagem porque incentiva o setor e beneficia também os catadores."

Lixões de um lado, produção de biometano de outro

O Panorama 2024 aponta que, no ano passado, 41% dos resíduos produzidos no Brasil, ou 28,7 milhões de toneladas, tiveram destinação final ambientalmente inadequada. Isso quer dizer que esses resíduos foram parar em lixões, valas, aterros irregulares, córregos e terrenos.

Erradicar os lixões do país foi a meta estabelecida pela legislação brasileira para o último dia 2 de agosto, data em que ainda existiam 1.572 lixões e quase 600 aterros controlados (aqueles sem proteção de solo e tratamento, considerados "lixões com cercas em volta"). Segundo o IBGE, 3 a cada 10 municípios do país ainda usam lixões.

"Estamos na época medieval neste aspecto, com danos para a saúde e para o meio ambiente", afirma Maranhão. "Os prefeitos precisam entender que seu custo de saúde diminui quando ele encerra um lixão. E que, com lixão, ele perde recursos, perde na saúde, no meio ambiente e no tratamento de água, porque a decomposição dos resíduos permeia o solo e contamina lençóis freáticos."

No sentido oposto deste atraso estão os aterros produtores de biometano, que capturam o metano emitido no processo de decomposição dos resíduos para a produção de biogás.

O país tem seis plantas deste tipo e sete outras aguardam aprovação, segundo o relatório. Quando forem instaladas, a Abrema estima que a produção de biometano por aterros terá capacidade de suprir cerca de 5% da atual demanda nacional por gás natural, hoje estimada em 58,4 milhões de Nm³/dia pelo Ministério de Minas e Energia (MME).