A epilepsia é um dos distúrbios neurológicos mais comuns no mundo, afetando cerca de 50 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Caracterizada por crises epilépticas recorrentes, a condição pode ter diferentes causas e manifestações, mas um dos seus maiores desafios é a epilepsia refratária, que representa aproximadamente 30% dos casos. Para esses pacientes, os medicamentos antiepilépticos tradicionais não são eficazes, tornando a busca por novas alternativas terapêuticas essencial.
No Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia, celebrado em 26 de março, a Médica de Família e Comunidade, Pós-graduada em Geriatria e Médica prescritora certificada de Canabis Medicinal, Inoã Viana reforça a importância do tratamento com fitocanabinoides, em especial o canabidiol (CBD), como a melhor alternativa para quem sofre com essa forma grave da doença. "O canabidiol tem um efeito neuroprotetor e anticonvulsivante já comprovado em diversos estudos clínicos. Para muitos pacientes, essa é a única esperança de reduzir a frequência e a gravidade das crises epilépticas", afirma a especialista.
Um problema global com impactos profundos
A epilepsia é causada por descargas elétricas anormais no cérebro, resultando em crises que variam de episódios sutis, como lapsos de consciência, até convulsões intensas com perda de controle motor e risco de lesões. As causas da doença podem incluir predisposição genética, lesões cerebrais traumáticas, infecções no sistema nervoso central, tumores e malformações congênitas.
Além das crises, a epilepsia afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, que frequentemente enfrentam limitações nas atividades diárias, desafios no aprendizado, dificuldades no mercado de trabalho e estigma social. O impacto psicológico da doença também é expressivo, com altos índices de depressão e ansiedade entre os diagnosticados.
A epilepsia refratária, por sua vez, apresenta um nível ainda mais crítico de dificuldade no tratamento. Segundo critérios médicos, um paciente é considerado refratário quando não responde adequadamente a pelo menos dois medicamentos antiepilépticos bem administrados. Isso significa que, para milhões de pessoas ao redor do mundo, as opções convencionais não são suficientes para controlar as crises, tornando urgente a busca por alternativas eficazes.
Revolução no tratamento da epilepsia refratária
Os fitocanabinoides, compostos encontrados na planta Cannabis sativa, têm sido amplamente estudados pela comunidade científica devido ao seu potencial terapêutico. Entre eles, o canabidiol (CBD) se destaca por suas propriedades anticonvulsivantes, já validadas por pesquisas clínicas que demonstraram sua eficácia em síndromes epilépticas graves, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut.
A história do uso medicinal da cannabis remonta a milênios, mas ganhou notoriedade mundial em 2013, com o caso de Charlotte Figi, uma menina norte-americana com síndrome de Dravet que experimentou uma redução de mais de 90% na frequência de suas crises epilépticas após iniciar o tratamento com um óleo rico em CBD. Esse episódio impulsionou uma onda de pesquisas científicas e levou à aprovação do canabidiol por órgãos regulatórios internacionais, como a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
"O CBD age diretamente no sistema endocanabinoide, que desempenha um papel fundamental na regulação da atividade neuronal. Ele ajuda a reduzir a excitabilidade excessiva do cérebro, prevenindo a ocorrência de crises epilépticas", explica a Inoã Viana. Além disso, o canabidiol se diferencia de outros componentes da cannabis, como o THC, por não apresentar efeitos psicoativos, o que amplia sua segurança para uso médico, inclusive em crianças.
Os benefícios do CBD no tratamento da epilepsia refratária foram confirmados em ensaios clínicos randomizados que demonstraram reduções significativas na frequência das crises. Em um dos estudos mais abrangentes, pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut tratados com CBD apresentaram uma diminuição média de 43% nas crises convulsivas, enquanto aqueles com síndrome de Dravet tiveram uma redução de até 50%.
Um novo horizonte para o tratamento
O Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia reforça a importância do debate sobre as opções de tratamento para essa condição, especialmente para os pacientes refratários, que ainda enfrentam enormes desafios na busca por qualidade de vida. O canabidiol se consolida como uma das principais inovações no combate às crises epilépticas, trazendo esperança para milhares de pessoas que não encontram resposta nos tratamentos tradicionais.
"O avanço da ciência e a evolução das políticas de acesso aos fitocanabinoides representam um novo horizonte para os pacientes com epilepsia refratária. Precisamos continuar investindo em pesquisa, educação médica e regulamentação adequada para garantir que esse tratamento seja acessível a todos que precisam", finaliza Inoã Viana.
Com mais estudos e maior conscientização, o canabidiol pode transformar a vida de muitas pessoas que lutam diariamente contra a epilepsia, oferecendo não apenas controle das crises, mas também uma nova perspectiva de bem-estar e autonomia.