Estudo mostra impacto das tragédias na rotina dos petropolitanos

População não consegue voltar para casa em dia de chuva

Por Gabriel Rattes

Centro Histórico ficou devastado com a chuva de 15 de fevereiro de 2022

Por Gabriel Rattes

"Do total de pessoas entrevistadas, aproximadamente dois terços afirmaram que costumam ter o seu retorno à residência afetado quando chove na cidade. Esse resultado é grave, uma vez que indica um problema crônico em Petrópolis. Isto é, não é necessário um temporal fora da média para afetar a vida das pessoas da cidade no retorno ao lar", é o que afirma o estudo Cefet Observa Petrópolis (COP). Coordenados pelo professor Rafael Ferrara, 12 alunos da Instituição percorreram bairros da cidade em busca de dados sobre problemas com chuva, com um enfoque na catástrofe de 2022. Nesta quinta-feira (11), também completa 13 anos de um dos maiores desastres já registrados na Região Serrana.

Em 15 de fevereiro de 2022, Petrópolis sofreu a maior tragédia registrada na história do município. Na tarde daquela terça-feira, durante um período de 6 horas, a cidade recebeu um volume de chuva, concentrado principalmente na sua região central, equivalente ao esperado para todo aquele mês. O resultado foram deslizamentos e enchentes, que deixaram um rastro de destruição na cidade e 235 mortos e 2 desaparecidos.

Segundo informações da repartição do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) no Rio de Janeiro, a cidade de Petrópolis registrou o maior volume de chuva em 24 horas desde 1952. Registrando 259,8 mm de chuva no dia 15 de fevereiro. Cerca de um mês depois, em março, novamente um forte temporal atingiu o município, aumentando em sete o número de mortos. Ao todo, foram registrados 242 mortos e mais de 640 pessoas ficaram desabrigadas entre os dois meses.

A partir dos fatos apresentados, o Cefet de Petrópolis, por meio do COP, entrevistou 800 moradores da região em diversos pontos da cidade. O projeto verificou que 48,8% dos entrevistados foram diretamente afetados pelo temporal em 15 de fevereiro de 2022. Também constatou que 592 pessoas (74%) não conseguem voltar para casa quando chove no município. "O público entrevistado é composto por pessoas que citaram 72 bairros diferentes. Logo, conclui-se que o problema não está situado em um único ponto da cidade, mas, sim, espalha-se pelo município", afirma o documento.

O medo causado pelas seguidas complicações ao retornar para casa em dias de chuva, que agora somados a uma tragédia histórica, potencialmente comprometem em decisões na vida das pessoas, como querer continuar morando no local atual. No entanto, a pesquisa demonstra que 60,20% das pessoas não pretendem mudar de local. "Isso não pode ser interpretado como comodismo ou insistência em residir em locais de risco. Existem diversos fatores que precisam ser considerados como condição financeira da família, legalização de onde mora possibilitando a venda, morar de aluguel, falta de opções, entre outros", explicou.

Ao final do estudo, os responsáveis concluíram que a população já era afetada pelas chuvas de maneira repetitiva antes mesmo da tragédia de 2022. "Fato esse que o governo municipal poderia ter se atentado apenas pelas notícias locais ou fazendo um estudo como deste documento para identificar onde atuar. Não bastante, nota-se também que as pessoas afetadas estão com medo e desejam se mudar de onde residem. Isso tende a ser uma decisão de quem não confia mais no poder público e precisa de soluções mais drásticas em suas vidas".

Prefeitura de Petrópolis

Em dezembro de 2023, a Prefeitura de Petrópolis, por meio da Secretaria de Proteção e Defesa Civil, lançou o Plano de Contingência para chuvas intensas de verão de 2024. Segundo o município, são 52 órgãos envolvidos no planejamento de resposta e de atendimento para casos de movimentos de massa, inundações, rolamentos de blocos rochosos, alagamentos, enchentes, ventos intensos e tempestades, fenômenos estes recorrentes durante o verão.

Sobre o balanço de quais ações a Prefeitura já realizou e pretende realizar na prevenção de problemas como: ruas alagadas, desmoronamentos e atraso nos ônibus, não obtivemos resposta.