Reencontro com a família após 20 anos nas ruas

Equipe do Núcleo de Integração Social localizou parentes no MA

Por Leandra Lima

Equipe do NIS e Clebson

Após viver 20 anos em situação de rua, Clebson, 35 anos, reencontrou a família na última sexta-feira (1). A reunião foi promovida pela equipe do Núcleo de Integração Social (NIS) da Prefeitura de Petrópolis que o acolheu por certo período e promoveu o levantamento de dados do homem até chegar aos familiares. Segundo a assistente social, Gabriela Bernabe Pena dos Santos, Clebson, chegou na unidade do Nis Petrópolis sem nenhum documento ou informações sobre quem era e de onde teria vindo. Em Petrópolis, foi onde ele obteve documentos de identificação básicos de um cidadão pela primeira vez, após todos esses anos vivendo nas ruas.

Conforme a equipe de assistentes sociais formada por Gabriela, Tiago F.P. Way e o coordenador do Nis, Sidinei Han, o rapaz foi encaminhado para o Núcleo, que é conhecido popularmente como "Abrigão", através do Sanatório Oswaldo Cruz (SOC), que primeiramente o recebeu do Hospital Azevedo Lima, de Niterói. No SOC foi feito um processo de desinstitucionalização, para que ele fosse reintegrado ao meio social. "Ele chegou aqui no Nis, sem documentos e com o nome e idade trocados. No início ficamos perdidos sem saber como levantar os dados, já que ele também não se comunicava, por conta do transtorno mental que possui. Essa condição dificultou um pouco descobrir a história, mas mesmo com a escassez de informações, o que conseguimos colher dele, fomos ligando um ponto ao outro", disse Gabriela. Em meio a um trabalho para ganhar a confiança do homem, a equipe conseguiu que Clebson contasse trechos de sua vida e os mesmos foram montando o quebra-cabeça até chegar ao resultado final.

História

Com os esforços, o homem de 35 anos, contou que fazia parte de uma tribo indígena, no interior do Maranhão, localizada na cidade de Turiaçu. No embalo, ele lembrou o nome da mãe e contou ainda que saiu de casa aos 15 anos e começou sua jornada percorrendo as ruas do Brasil. Clebson não sabe dizer como veio parar em Petrópolis e nem porque saiu de casa.

A partir dessas falas começou a pesquisa, os assistentes sociais entraram em contato com o Núcleo de Assistência Social de Turiaçu e assim começou a investigação. Nesse processo foi possível identificar o registro de nascimento e consequentemente um familiar, o irmão dele, Elisaldo, que foi a primeira pessoa com quem a Equipe do Nis de Petrópolis conseguiu contato e através dele foi feita a checagem dos fatos. "Na ligação que fizemos de vídeo, veio a confirmação de que o Clebson era realmente irmão dele. Foi um momento emocionante pois a família estava já sem esperança de reencontrá-lo vivo", expressou a equipe.

Depois do ocorrido foi realizado um trabalho para garantia da cidadania de Clebson. Localizaram a certidão de nascimento possibilitando a retirada de documentos, como RG e CPF. "Esse processo foi muito importante para assegurarmos com maior agilidade o reencontro da família, que sofre com uma lacuna de 20 anos sem o ente querido. Isso foi um marco para ele, que com 35 anos tirou seus primeiros documentos", relatou o assistente Tiago.

Durante a vivência nas ruas, o homem sofreu diversas violências sociais, sendo invisibilizado e esquecido, essas camadas também o fizeram apagar suas memórias. "Parece que ele parou no tempo durante todos esses anos", essa foi a frase utilizada por Gabriela ao contar sobre os primeiros contatos com Cleber.

Para a equipe foi muito gratificante ver a evolução do caso e proporcionar o reencontro da família com o acolhido.

Reencontro

Sempre em contato com os responsáveis pelo caso, a família que é composta atualmente por um patriarca e 4 filhos (irmãos) se juntou para arrecadar fundos e conseguir finalmente vir ao Rio de Janeiro ao encontro de Cleber. Por questões financeiras a irmã do rapaz, Mari Cleia, veio sozinha, lá do Maranhão até o Rio de Janeiro de ônibus para recepcionar o irmão que não via há mais de 20 anos, o reencontro aconteceu na última sexta-feira(1) na Rodoviária Novo Rio.

A irmã conta que por muito tempo a família vinha à procura do irmão, mas não sabia por onde ele andava. "Sempre orava a Deus e pedia um sinal para que se ele estivesse vivo, nos ajudasse a encontrá-lo. Quando soube da notícia foi uma emoção muito grande, a alegria maior será quando ele ver toda a família. Foi um milagre divino o ter conosco de novo", disse.

O desfecho da história impactou a equipe do Nis que informou que o trabalho foi realizado com esforços em conjunto das equipes da Rede Pop Rua que engloba o Consultório na rua, Centro pop, Casa da Cidadania, Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) com auxílio do Secretário de Assistência Social, Fernando Araújo, em parceria com a Polícia Militar.