Por: Leandra Lima

Moradia digna às famílias em situação de vulnerabilidade

Quitinete construída por meio do programa | Foto: Divulgação/CDDH

Por Leandra Lima

Em 2022, uma tragédia socioambiental atingiu a cidade de Petrópolis, deixando 235 mortos e cerca de 4 mil desabrigados. Na ocasião, parte da sociedade civil e organizações sociais, se reuniram para auxiliar os sobreviventes, coletando donativos, como roupas e alimentos para serem distribuídos às vítimas. No período, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), iniciou uma campanha de arrecadação de fundos, para destinar às famílias atingidas. Inicialmente esses recursos não tinham um fim específico, serviam como meio de ajuda às vítimas, proporcionando alimentação. No decorrer da ação, a instituição observou que arrecadou um valor alto por conta da campanha, e a partir daí destinou o capital para o projeto "De Volta Para Casa" com o objetivo de restaurar e proporcionar moradia digna para famílias impactadas pela tragédia.

"Chegou em um momento do nosso trabalho inicial, que percebemos que era preciso realizar um projeto maior, que realmente ajudasse essas famílias de forma eficaz. Não que o alimento não seja, mas frente às necessidades, pensamos no que pesava mais, a comida ou uma casa. E claramente vimos que esse era o certo, proporcionar um lugar seguro para essas pessoas. A questão das cestas básicas, nossa equipe orientou a procurar a Assistência Social do município para o fornecimento. O alimento é um direito, é! Mas a moradia também", revelou um dos representantes do projeto, Douglas Ramos.

O De Volta para Casa, começou de fato, no final de 2022, depois da equipe analisar qual era a melhor forma de melhorar a qualidade de vida de moradores que tiveram a casa atingida pelas fortes chuvas. Os beneficiados com o programa, passaram por uma entrevista no CDDH, onde apresentaram o laudo da Defesa Civil, indicando a causa da interdição, onde era possível avaliar os tipos de riscos e se eram irreversíveis ou não. Após o processo foram realizadas inúmeras visitas técnicas às casas, junto com mediadores da Defesa Civil. Por conta do orçamento, foram estabelecidos critérios para a inserção de pessoas no projeto, a prioridade eram famílias compostas por uma pessoa idosa, com crianças e portadoras de alguma deficiência ou doenças crônicas, além de mães solos.

Segundo o assessor do projeto, Breno Braganollo, até o momento, 30 famílias foram contempladas com as obras. O último feito, foi realizado na comunidade do Caxambu, com o morador Marco Aurélio, um idoso que estava vivendo em um quartinho de madeira ao lado da casa de sua irmã. O espaço era de uma construção muito precária e o ambiente de extrema vulnerabilidade. Breno relata que o quartinho tinha madeiras soltas bem velhas e úmidas, gerando uma área inabitável, com muitas infiltrações e outros problemas de infraestrutura. Através do programa foi construído uma quitinete, um ambiente composto por quarto e banheiro. Para o contemplado, foi uma realização ter seu espaço digno. "Onde estava era muito ruim, triste né, o barraquinho era de madeira, molhava com a água. Agradeço a Deus e a equipe que me ajudaram", expressou, Marco Aurélio.

Durante as visitas, Breno fala que houve diversas histórias difíceis, que o fez perceber o quão vulnerável são as políticas públicas de habitação na cidade. "Falta um projeto eficaz, existem muitos que ficam no papel, mas na prática mesmo não há. Dito isto, um dos pontos levantados pelo o CDDH é a questão da moradia, então através desse trabalho que estamos proporcionando, esperamos que órgãos públicos vejam a iniciativa e criem articulações que causam um impacto real na vida das pessoas, trazendo segurança para cada um deles", disse.

Impacto na vida das vítimas

O impacto das tragédias socioambientais no município, englobam diversas questões que vão de infraestrutura à saúde mental e física, além da integridade dos indivíduos. A fragilidade da estrutura pública para lidar com as pautas é levantada por órgãos e instituições. Esse fato, foi um dos pontos levados, pela representante do Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho (TJNS), Pamela Mércia, em uma audiência pública, realizada neste mês, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que discutiu a Política Climática dentro do Estado do RJ.

"Petrópolis tem um histórico grande com chuvas. Com isso, nós do Instituto, fizemos um levantamento de dados, sem atualizações do ano de 2024, de quantas vidas foram perdidas durante desastres que atingiram a cidade. Desde 1965 a 2022 a nossa pesquisa mostrou que foram mais de 800 vidas perdidas ao longo de sete décadas", disse.

Pamela ressaltou ainda que, desde 2022, a cidade vem tendo um crescimento de uma população adoecida, por conta dos constantes desastres. "Quando eu digo população adoecida, falo de pessoas que estão extremamente afetadas com ansiedade climática, e com isso, os indivíduos se auto prejudicam, acabam entrando no mundo das drogas e álcool, por não encontrarem auxílio, em suas localidades. Por isso é importante se ter um plano de adaptação climática no município, que olhe para o psicológico dessas pessoas, principalmente por conta dos inúmeros casos de ocorrências de deslizamentos, desalojados, vítimas fatais entre outros", explica.

A representante do instituto destaca que é importante ter um plano de adaptação, que englobe o combate ao racismo ambiental na região, proporcionando um olhar mais humanizado para a causa.