Por: Yasmim Grijó e Laís Lima

Desafios e superação na maternidade atípica

A mãe Fabiana Teixeira e seu filho Arthur, que é paratleta da Seleção de Atletismo | Foto: Arquivo Pessoal

Por Yasmim Grijó e Laís Lima

As mães de crianças com deficiência, chamadas de mães atípicas, são protagonistas que retratam a trajetória de mulheres que não medem esforços pelo direito à vida dos seus filhos e que, ao mesmo tempo, buscam retomar suas próprias histórias.

Na trajetória da maternidade, algumas histórias se destacam pela sua resiliência e amor incondicional. É o caso de Fabiana Teixeira, uma mãe que se encontrou no convívio com seu filho, Arthur, de 20 anos, portador de síndrome de down, uma fonte constante de aprendizado e inspiração.

Desde o nascimento de Arthur, Fabiana mergulhou de cabeça no desafio de criar um ambiente acolhedor e inclusivo para seu filho. Ela enfrentou obstáculos e preconceitos, mas nunca desistiu de lutar pelos direitos e pela felicidade do filho.

Para Fabiana, a síndrome de down nunca foi uma limitação, mas sim uma oportunidade de enxergar o mundo de uma forma única e especial. Ela valoriza cada conquista de Arthur, e celebra cada momento de alegria e superação.

"Ser mãe de um filho com síndrome de down é um presente incomparável. A cada dia ao lado dele, que veio para iluminar nossa família, aprendemos valiosas lições sobre a simplicidade da vida e a força do amor. Somos abençoados por ter o Arthur em nossas vidas, ele nos ensina que a vida é simples e que somos nós quem complicamos, e que o amor é capaz de vencer todos os obstáculos", destaca a mãe.

Relação de maternidade com o diagnóstico

Receber o diagnóstico de autismo gera dificuldades em entender o que fazer e quais caminhos procurar. Fabiana compartilha que o processo de enfrentamento do diagnóstico do Arthur foi desafiador. A análise só veio 30 dias depois do nascimento, quando uma cardiopatia grave chamou a atenção da equipe médica.

"Fomos confrontados com a notícia de que Arthur tinha síndrome de down, mas também passava por uma grave condição cardíaca. Sem tempo para luto, mergulhamos na batalha pela saúde dele, e aos 11 meses de vida, ele passou por uma cirurgia do coração bem sucedida", conta.

Fabiana ainda conta que uma das experiências mais marcantes como mãe de uma criança com síndrome de down foi testemunhar sua superação. Apesar das expectativas de que ele só andaria depois dos 5 anos, Arthur começou a dar seus primeiros passos com apenas 1 ano e meio, desafiando todas as probabilidades.

"Outro momento inesquecível foi quando ele começou a cantar uma música do Luan Santana, seu cantor favorito, trazendo muita emoção para nossa família. Ele se tornou um grande fã do cantor, até que em 2018 conseguimos levá-lo ao show, e o artista o recebeu no camarim. Contamos a nossa história, foi muito especial e emocionante", relata.

Significado da maternidade atípica

Como mãe, Fabiana pontua que seu maior desejo é que as pessoas enxerguem Arthur e todas as pessoas com síndrome de Down como seres humanos completos, com habilidades e direitos como qualquer um, destacando que o respeito é fundamental.

Além de superar e estar ao lado de Arthur em todos os momentos, Fabiana investe no talento do filho, que é paratleta e membro da Seleção Brasileira de Atletismo. Um atleta dedicado que treina todos os dias. "Sua disciplina e dedicação são inspiradoras, e ele é um exemplo para todos que o acompanham. Ser mãe de um paratleta exigiu muita dedicação, mas ver meu filho representando o Brasil e sendo exemplo para outros é a maior recompensa. Foram muitas superações ao longo dos anos, mas cada obstáculo valeu a pena para vê-lo alcançando seus sonhos," completa.

Conheça Camila, mãe solo e atípica

Que a maternidade é um período difícil e desafiador para todas as mães não é novidade, o que pouco se vê é que para as que enfrentam a maternidade atípica tudo se torna mais complexo e doloroso. A maternidade atípica se refere a mães que lidam com a criação de filhos que necessitam de cuidados especiais, muitas vezes envolve o processo de descoberta do diagnóstico do filho, e a busca pela rede de apoio. Para essas mães, enfrentar o desconhecido é uma experiência constante que requer habilidades emocionais e de adaptações.

As mulheres em sua maioria, dedicam grande parte de suas vidas ao cuidado aos outros, sobretudo aos filhos, essas mulheres em geral são negligenciadas e invisibilizadas pela sociedade; quando se fala em mães atípicas, tudo se somatiza, e dentro desta soma, entram o abandono afetivo por parte dos companheiros, o olhar piedoso da sociedade, a sobrecarga física e mental e o afastamento de amigos e familiares. Essas mulheres não procuram caridade, procuram acolhimento, conforto, escuta e acessibilidade.

Camila Emerick, mãe de Bento, relata essa realidade: "Amo meu filho, mas não amo a maternidade. Como sou mãe atípica, fica impossível conciliar e dar conta de tudo. O trabalho é o que me faz ter contato com outras pessoas e esquecer um pouco da sobrecarga que tenho como mãe solo/atípica. Vou realmente vivendo um momento de cada vez. É sempre algo fica pra depois e esse depois sou sempre eu", conta.

"Avançamos muito, mas infelizmente ainda precisamos de políticas públicas e de apoio de familiares e amigos. Mas raramente isso acontece e sendo assim continuamos sobrecarregadas e muitas vezes isoladas. Não saímos de casa, por falta de apoio e por conta dos olhares da sociedade."

Essas mulheres não querem ser guerreiras, querem ser mulheres acima de tudo.