A eudaimonia, conceito filosófico da ética aristotélica, define a felicidade e a realização de uma vida plena como algo que só pode ser realmente avaliado ao seu término. Com essa visão — de que a realização autêntica se mede ao final, pela solidez de seu legado — cabe examinar a atual administração de Petrópolis, em especial o Instituto Municipal de Cultura (IMC). No entanto, em vez de um desfecho que inspire "felicidade" e senso de realização, o término da gestão deixa um rastro de promessas frustradas e prejuízos para a cultura da cidade.
No início de sua administração, o Instituto prometia um novo paradigma, afirmando que, enfim, Petrópolis experimentaria uma transformação cultural profunda e democrática. No entanto, o que ocorreu nos anos seguintes foi, em boa parte, uma repetição dos vícios do passado. As falhas se manifestaram em várias frentes, a começar pelo atraso nos pagamentos a agentes culturais locais, um problema que afetou financeiramente e emocionalmente inúmeros produtores e artistas da cidade.
Além disso, o IMC comprometeu-se com a transparência e o rigor na elaboração dos editais de cultura, mas o que se viu foram editais muitas vezes mal redigidos, deixando lacunas que abriram espaço para múltiplas interpretações e uma série de erratas que se tornaram corriqueiras. Em nome da "democracia", decisões foram impostas de maneira vertical, sem consulta ao Conselho Municipal de Cultura, numa clara contradição entre o discurso de participação e a prática autoritária. Um exemplo disso foi a exclusão dos agentes culturais que receberam apoio pela Lei Aldir Blanc de participar de editais municipais financiados pelo Fundo Municipal de Cultura. Tal restrição, em nome de uma falsa isonomia, ignora que são esferas distintas — uma federal e outra municipal —, ferindo a ampla concorrência e limitando o acesso de agentes culturais a esses recursos.
Entre os equipamentos culturais da cidade, dois exemplos críticos revelam o abandono da política cultural local. O Centro de Cultura de Petrópolis, o segundo maior centro de cultura do estado do Rio de Janeiro, permanece em estado de sucateamento, com reformas paliativas que não atendem às necessidades da população. Com pinturas de fachada e reparos de baixa qualidade, o local ainda sofre com instalações que já não servem à sua função e carecem de um planejamento sólido de revitalização. Da mesma forma, o Theatro Dom Pedro, fechado há anos para reforma, ainda não foi devolvido ao povo. Inúmeras promessas de reabertura foram feitas, mas nenhuma concretizada, privando Petrópolis de um espaço cultural essencial.
Ao término desta gestão, a eudaimonia que poderia ter sido alcançada é apenas uma sombra do que foi prometido. E é com uma amargura merecida que nos lembramos das palavras de Fernando Pessoa, em seu Ultimatum: "Mandado de despejo aos mandarins do mundo... Fechem-me tudo isso à chave e deitem a chave fora."