Chegou uma notícia em Brasília que causou a maior repercussão: 50% dos barbeiros de Codó, interior do Maranhão, estão com febre amarela. 50%? Mas por que os barbeiros? Foi, então, montada uma comissão de deputados e senadores e, rapidamente, foram para lá e verificar pessoalmente o que estava acontecendo. Lá chegando, realmente verificaram que 50% dos barbeiros estavam efetivamente com febre amarela. Só que em Codó existem apenas 2 barbeiros e 1 deles estava com a febre: exatamente 50%.
É óbvio que isso é uma historinha falsa. Mas mostra claramente que, muitas das vezes, analisar apenas o percentual, o valor relativo, nos induz a conclusões completamente erradas e a tomar decisões equivocadas.
Vamos olhar com outros olhos, por exemplo, uma notícia que causou uma tremenda confusão no setor alimentício de carnes. Segundo constava, 21 frigoríficos foram investigados e sofreram sanções do governo. Essa quantidade é alta, se somente olharmos para o número puro e simples. Mas quando olhamos para o total de frigoríficos, 4.837 unidades processadoras de produtos animais no Brasil, vemos que estamos falando de 0,43% dessas. Logo, se a polícia federal tivesse divulgado que 0,43% das unidades estão irregulares, será que teria havido todo o estardalhaço?
É muito perigoso quando apenas olhamos o número frio. É sempre importante analisarmos o percentual relativo e a qual universo estamos nos referindo.
Por isso os empresários devem tomar muito cuidado com sua imagem perante o público, principalmente ao ignorar alguma reclamação de cliente. Uma reclamação pontual mal tratada pela empresa, pode causar seu fechamento. Nesse caso da carne, o dano foi enorme, pois afetou um setor enorme no Brasil. Todo ele foi taxado de sem qualidade e irresponsável.
E podemos extrapolar esse conceito para as notícias que nós mesmo espalhamos pelo nossos "zaps". Quantos de nós, antes de repassarmos, procuramos verificar a veracidade do que recebemos? Essa nossa atitude pode, exponencialmente, causar estragos sem percebermos. Um exemplo disso foi um filminho que recebi de pombos sendo "engolidos" pelo líquido de um tanque. Se afirmava que se tratava de um tanque de produção de uma grande cervejaria. Só que isso é impossível, pois tais tanques ficam fechados e o cheiro do liquido, naturalmente, afastaria qualquer ave. Um filminho desse tipo, espalhado ao léu, pode acabar com uma empresa e com muitos empregos.
Já vi, em muitas empresas, se criarem processos, normas e procedimentos para tratar situações que eram pura exceção. É a famosa pergunta "e se?". Mas após o "e se?" devemos perguntar: quantas vezes isso acontece no mês, no ano, no dia? Essa segunda resposta, muitas das vezes, nos fará repensar o que fazer. Pois estaremos juntando a quantidade de vezes com o universo total da análise.
Não vamos ser movidos pela exceção. Vamos pautar pela regra. Mas muito cuidado e atenção: nós mesmos podemos estar ajudando a prejudicar a muitos ou mesmo aumentando o custo em nossas empresas, quando transformamos a exceção em regra.
*Diretor de Aluguel especialista em Pequenas Empresas