Por: Leandra Lima - PETR

Especialista fala sobre importância de promover saúde mental nas escolas

professora relata que cada vez mais, alunos estão se sentido perdidos e desmotivados | Foto: Alexandre Campbell/ Direitos Reservados/ Agência Brasil

Por Leandra Lima

O relatório "Situação Mundial da Infância 2021", produzido pelo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), estima que quase um em cada seis jovens entre 10 e 19 anos de idade, no Brasil, viva com algum transtorno mental. Essa é a parcela mais exposta ao risco de depressão e outros transtornos. O estudo aponta ainda que, algumas patologias psíquicas iniciam em um indivíduo aos 14 anos, porém na maioria dos casos não são detectadas e tratadas. Diante do cenário descrito, educadores vêm percebendo o aumento de quadros de ansiedade e crises de pânico nas salas de aula. Em Petrópolis, a professora Angélica Silva, relatou que cada vez mais, os alunos estão se sentido perdidos e desmotivados, muitos deles se sentem incapazes e isso gera outros problemas.

"Dou aula há mais de 20 anos e posso dizer que venho notando nos últimos três anos o quão os alunos estão se sentido ansiosos e perdidos, alguns deles não confiam na própria capacidade e se diminuem. Muitos não conseguem focar no conteúdo e acabam não absorvendo o que é passado, e isso reflete nas notas, que é outro parâmetro para eles se compararem", disse a professora.

O professor Rodrigo Ventura, que também atua na cidade, expressou que a questão da saúde mental dos jovens é para ser uma preocupação geral, mas está recebendo pouca atenção, principalmente no ambiente escolar. "Particularmente este ano, os casos de atendimento médico nas escolas aumentaram muito. Quase todos os dias o SAMU é acionado aqui para a escola. Em geral, estão ocorrendo muitos casos de problemas psicológicos como crises de ansiedade, pânico, e até crises de epilepsia. Em outros anos isso ocorria, no máximo, cinco vezes por ano, agora ocorre quase duas vezes por semana e às vezes até mais", indagou.

Frente a situação, a psicóloga clínica, Yasmin Pereira da Silva Pujol, fala que o ambiente escolar pode contribuir de maneira significativa, na qualidade mental dos alunos. "Algumas escolas oferecem um ambiente competitivo e com altíssimas expectativas, uma fala comum é "estude enquanto eles dormem". Além do estresse gerado, ambientes assim, promovem comparação entre alunos e até sentimentos de inadequação, intensificando o medo do fracasso e a ansiedade, podendo prejudicar diversos aspectos do desenvolvimento acadêmico e pessoal", enfatizou.

A profissional explica outros efeitos do problema, "em um ambiente escolar, a ansiedade do aluno pode prejudicar sua atenção. Isso afeta sua capacidade de memorização e internalização do conteúdo, diminuindo assim seu desempenho acadêmico. Outro comportamento comum em casos de ansiedade é a procrastinação, o adiamento de tarefas e estudos por medo de falhar, resultando em trabalho acumulado e menor qualidade de absorção. Já os episódios de pânico podem levar a faltas frequentes na escola, o que impacta negativamente o aprendizado, isso somado ao despreparo de algumas instituições pode gerar constrangimento elevando mais ainda seus níveis de ansiedade. No aspecto pessoal a ansiedade elevada pode diminuir a autoestima dos jovens, levando ao desenvolvimento de estratégias de enfrentamento negativas, como à evitação de situações desafiadoras. Além de poder afetar seu meio social, apresentando dificuldade em formar e manter amizades, levando ao isolamento", explica.

A psicóloga fala ainda que, algumas escolas não têm recursos adequados para aconselhamento psicológico e suporte emocional para os alunos. Entretanto, a principal questão é a falta de educação sobre saúde mental e o estigma ao buscar um profissional, o que acaba escalando cada vez mais a questão, afastando o diagnóstico precoce.

Para Yasmin, abordar o problema da ansiedade e do pânico, entre os jovens, exige intervenção em algumas esferas, envolvendo educação e suporte emocional. Com isso, ela recomendou algumas ações para serem desenvolvidas no ambiente escolar como: a realização de eventos educativos em saúde mental visando conscientizar sobre os sinais e sintomas de ansiedade e pânico; oficinas para ensinar técnicas de relaxamento; incentivo a busca de acompanhamento psicológico com profissionais qualificados; e a formação de grupos de apoio que possam fornecer um espaço seguro para a troca e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.

Outro ponto levantado foi sobre estimular nas escolas, a criação de workshops para pais, auxiliando-os a reconhecer e lidar com a ansiedade e o pânico dos filhos, isso intensifica a participação dos responsáveis na educação de saúde mental dos mesmos, facilitando a formação de uma rede de apoio entre casa e escola. Outra questão relevante seria a criação de um espaço onde os alunos possam falar sobre o ambiente escolar e sugerir melhorias relacionadas à saúde mental.