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Teresópolis se recupera de período político sombrio após a tragédia de 2011

Jorge Mário (2011) | Foto: Divulgação

Teresópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, viveu um dos capítulos mais tristes e caóticos de sua história. A tragédia socioambiental de 2011 marcou o início de um período sombrio que culminou em uma instabilidade política, econômica e social sem precedentes. Foram oito prefeitos em sete anos - 2011 a 2018 - um recorde que evidencia a turbulência enfrentada pela população.

Em janeiro de 2011, Teresópolis foi severamente atingida por uma das piores catástrofes ambientais do Brasil. Chuvas torrenciais causaram deslizamentos de terra e enchentes que resultaram na morte de ao menos 900 pessoas na Região Serrana, e deixou centenas de desabrigados ou desalojados. O impacto devastador não foi apenas material, mas também psicológico e econômico, desestruturando a cidade por completo.

Instabilidade Política: prefeitos afastados e cassados

A tragédia deu início a uma série de crises administrativas. Em um período de sete anos, entre 2011 e 2018 , Teresópolis viu oito prefeitos diferentes ocuparem o cargo, escândalos de repercussão nacional, denúncias de desvio de recursos destinados à reconstrução da cidade, afastamento de prefeitos e pedidos de cassação, refletindo a instabilidade política que assolou a cidade.

Jorge Mario Sedlacek (2011), prefeito de Teresópolis durante a tragédia de 2011, enfrentou severas críticas pela resposta insuficiente ao desastre. Muitos acusaram a gestão de Jorge Mario de ser lenta e desorganizada na prestação de socorro às vítimas e na execução de medidas preventivas. A cidade estava despreparada para lidar com um desastre de tal magnitude, e a falta de um plano de emergência adequado agravou a situação.

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Roberto Pinto (2011) | Foto: Divulgação

Além disso, surgiram denúncias de desvio de recursos destinados à recuperação da cidade, culminando no afastamento de Jorge Mario do cargo em 2011, após a Câmara Municipal aprovar o impeachment por 8 votos a 3.

Contra Jorge Mário há ainda, pelo menos, quatro ações movidas pelo Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro que apontam indícios de irregularidades no uso das verbas emergenciais da tragédia de 2011. Em uma dessas ações, o MPF pede, inclusive, o ressarcimento de R$ 10 milhões aos cofres públicos.

Roberto Pinto (2011), após o afastamento de Jorge Mario, Roberto Pinto, seu vice-prefeito, assumiu o cargo. No entanto, seu mandato foi tragicamente interrompido poucos meses depois. Roberto Pinto morreu de infarto, um acontecimento que abalou ainda mais a cidade, já mergulhada em crise.

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Arlei Rosa (2012) | Foto: Divulgação

Arlei Rosa (2012), com a morte de Roberto Pinto, Arlei Rosa, então presidente da Câmara Municipal, assumiu a prefeitura interinamente. Em 2013, após vencer a eleição de 2012, como prefeito Arlei Rosa enfrentou um período ainda mais turbulento, marcado por acusações de corrupção e má gestão dos recursos destinados à recuperação da cidade. Projetos de reconstrução foram atrasados ou abandonados, e a frustração dos moradores aumentou. Na época, o escândalo se deu a partir da abertura de um inquérito do Ministério Público que encontrou indícios de enriquecimento ilícito do então prefeito, ele mantinha uma propriedade particular com um mini-zoológico e um haras em Sapucaia, cidade vizinha, avaliada em R$ 3,5 milhões, um bem incompatível para um prefeito que recebia R$ 14,5 mil de salário.

O atual presidente da Câmara Municipal, Leonardo Vasconcellos foi homem de confiança e Secretário de Governo e Educação de Arlei Rosa. Em 2015, Arlei foi afastado do cargo por suspeitas de improbidade administrativa, o que agravou ainda mais a sensação de caos e desgoverno em Teresópolis.

Após o afastamento de Arlei Rosa, a instabilidade política continuou:

Márcio Catão (2015), o vice-prefeito, assumiu após o afastamento de Arlei. Enfrentou dificuldades em colocar a 'casa em ordem'. Seu curto mandato foi marcado pela continuidade das investigações sobre corrupção e pela tentativa de restabelecer alguma normalidade administrativa. Catão morreu em 2023 por complicações após um período de internação.

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Márcio Catão (2015) | Foto: Divulgação

Mário Tricano (2017), político veterano, voltou ao poder em meio a promessas de resolver os problemas da cidade. No entanto, seu mandato também foi turbulento, enfrentando acusações de práticas administrativas questionáveis e falta de transparência. Tricano tem um histórico turvo com a Justiça foi condenado em 2008 por abuso de poder, não pode assumir as eleições de 2012, por força da Lei Ficha Limpa. E também neste mesmo ano, Mário Tricano chegou a ser preso em um desdobramento da Operação Dedo de Deus, quando a Polícia Civil prendeu 40 contraventores no Rio de Janeiro. Tricano foi acusado de ter ligações com o jogo do bicho. Assumiu a Prefeitura em 2017, mas em meio a polêmicas, pediu licença de seis meses para cuidar de assuntos particulares, deixando no cargo seu vice.

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Mário Tricano (2017) | Foto: Divulgação

Sandro Dias (2017), vice-prefeito de Tricano, assumiu com a promessa de renovação, mas também encontrou desafios consideráveis. Ele enfrentou críticas pela falta de experiência e pela incapacidade de implementar mudanças significativas.

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Sandro Dias (2017) | Foto: Divulgação

Pedro Gil (2018), até então presidente da Câmara de Vereadores, Pedro Gil assumiu o cargo depois que o então prefeito Mario Tricano desistiu de uma liminar que o mantinha como chefe do Poder Executivo desde 2016.

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Pedro Gil (2018) | Foto: Divulgação

Instabilidade econômica e social

A troca constante de liderança política na cidade resultou em uma administração municipal desordenada, impactando diretamente a economia local. Projetos de reconstrução e infraestrutura foram interrompidos ou mal executados, agravando a situação dos moradores que ainda tentavam se recuperar da tragédia.

Além disso, a falta de continuidade nas políticas públicas afetou setores essenciais como saúde e educação. Hospitais enfrentaram escassez de recursos e profissionais, e as escolas, danificadas pelas chuvas, demoraram anos para serem reparadas adequadamente. A população, já traumatizada pelo desastre, sofreu com o descaso e a falta de apoio. O impacto dessa má gestão perpetuada em diferentes gestões é um preço caro que penaliza a população até hoje.

Nova gestão

Em 2018, finalmente ocorrem eleições municipais em Teresópolis. Vinicius Claussen foi eleito com 36,58% dos votos. Claussen é o primeiro prefeito em sete anos a não enfrentar nenhum pedido de cassação ou investigação judicial. Reeleito nas eleições de 2020, trouxe em sua gestão estabilidade e transparência ao executivo municipal.

Dívidas antigas

Um exemplo do impacto causado pelas gestões anteriores, e que vem sendo enfrentada com transparência pelo atual governo é a dívida acumulada em precatórios. Teresópolis tem um estoque de dívidas de R$ 279.052.783,78 em um acumulado de décadas, valor que é atualizado pela taxa de juros Selic, hoje em 10,75%, mais juros de 1% ao mês, e que não para de aumentar. O montante se refere a pendências com fornecedores, empenhos não pagos e demais condenações judiciais. Segundo a atual gestão, os sequestros judiciais constantes inviabilizam a execução de investimentos da gestão em saúde, educação e serviços públicos.

Desde 2018, a administração municipal de Teresópolis desembolsou um total de R$ 210.413.738,78 em pagamentos de precatórios e sequestros judiciais. Desse total, R$ 107.329.784,46 foram pagos de precatórios pela gestão atual e R$ 103.083.954,32 sequestrados diretamente de suas contas devido a ordens judiciais.

Eleições 2024

A participação popular nas eleições municipais deste ano são cruciais e podem ajudar a mudar esse quadro. Teresópolis tem cerca de 121 mil eleitores aptos a irem às urnas em outubro. A cidade espera por um período de estabilidade e desenvolvimento, onde a confiança na liderança política possa ser restaurada e o bem-estar dos cidadãos colocado em primeiro lugar.