Organizações sociais petropolitanas repudiam conotação racista em camisa
Imagem exibe uma mão de cor escura encostando e "contaminando" uma mão branca
Movimentos, coletivos sociais e instituições ligadas à pauta racial, vieram a público durante a última quarta (27) e quinta (28), expressar indignação a respeito de uma arte estampada em uma camisa da marca petropolitana Criação Gênises. Segundo as denúncias, a estampa possui conotação racista, onde expressa através de uma imagem uma mão de cor escura encostando e “contaminando” uma mão branca, (arte inspirada na “Criação de Adão” do artista renascentistas Michelangelo) com a seguinte frase: “Não se Contamine”.
A imagem foi interpretada pela comunidade negra como um ato de racismo, que coloca a pessoa preta como um indivíduo sujo, em uma posição que contamina o outro com a cor. Frente a situação, as instituições se manifestaram repudiando o fato. O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPRIR), expressou através de nota, profundo repúdio à estampa, que exibe a frase "Não se contamine!" junto à ilustração. Para eles, o conjunto provoca uma evidente associação preconceituosa.
Em outro trecho ressaltam que tal representação simbólica é inaceitável e conjura um ato de racismo, ferindo os princípios fundamentais de dignidade, igualdade e respeito que regem a sociedade. Ainda segundo a nota, em um país como o Brasil, onde a luta pela promoção da equidade racial é constante, atitudes como essa não podem ser toleradas. Elas reforçam estereótipos racistas, promovem desumanização e desrespeito aos princípios fundamentais representativos da população negra.
No mesmo tom a Educafro núcleo Petrópolis, instituição que tem como missão promover a inclusão da população negra e pobre nas universidades públicas e particulares com bolsa de estudo, afirmou que a ilustração reforça estereótipos racistas, criados dentro da estrutura social. Em seguida a Associação dos Remanescentes do Quilombo da Tapera que existe e resiste há mais de 100 anos em Petrópolis, sendo o único existente reforçou que a criação da marca promove o desrespeito aos princípios fundamentais representativos da população negra.
A Comissão da Igualdade Racial e a Comissão de Direitos Humanos da 3ª Subseção da OAB/RJ - Petrópolis - São José do Vale do Rio Preto, também exprimiu que a mensagem é claramente ofensiva e discriminatória, perpetuando o racismo estrutural na sociedade. Conforme a instituição, a associação entre a cor da pele e a ideia de contaminação é uma afronta direta aos direitos humanos e um insulto à luta histórica e contínua pela igualdade racial. “Em pleno século XXI, é inaceitável que ações publicitárias de cunho racista ainda encontrem espaço para circulação, seja por ignorância, descuido ou intencionalidade. A responsabilidade social de qualquer empresa inclui o compromisso de respeitar a dignidade humana e promover a inclusão, e não o oposto”, trecho da nota.
Reivindicações
De forma unânime todas as organizações pediram um retratamento da marca e demarcando uma série de medidas. “Requeremos que a marca Gênesis: Remova imediatamente o produto de circulação e venda; apresente um pedido público de desculpas às pessoas negras e à sociedade em geral; adote medidas concretas para prevenir a repetição de ações discriminatórias, incluindo a formação de suas equipes em diversidade, equidade e inclusão”.
Posicionamento da marca Gênises
Através de assessoria jurídica os responsáveis pela a marca Gênises, informaram que a intenção por trás da arte, a imagem da mão branca e da mão necrosada foi criada para ilustrar o versículo de Daniel 11:21, como uma metáfora da contaminação espiritual.
De acordo com a nota, a cor da mão necrosada não tinha a intenção de representar uma etnia específica, mas sim um estado de deterioração e impureza. “Lamentavelmente, minha arte foi interpretada de forma totalmente diferente da intenção original. A última coisa que eu desejaria seria ofender ou causar qualquer tipo de mal-estar. Respeito profundamente todas as pessoas, independentemente de sua raça ou origem. Agradeço a todos que se manifestaram e me ajudaram a entender essa falha na comunicação. Acredito que a arte deve ser um veículo de reflexão e diálogo, e lamento profundamente se a obra causou qualquer tipo de dor ou sofrimento”, trecho da nota enviada pela assessoria jurídica.