Ex-prefeito de Nova Friburgo é condenado por desvio de verbas da União

Recursos eram destinados às vítimas da tragédia socioambiental de 2011

Por Redação

Agência Brasil
Nova Friburgo foi um dos municípios mais atingidos pela catástrofe de 2011

Na última semana a Justiça Federal condenou o ex-prefeito de Nova Friburgo, Dermeval Barboza Moreira Neto, a uma pena final de 9 anos, 10 meses e 10 dias de reclusão, por improbidade administrativa, após o Ministério Público Federal (MPF), constatar desvios de verbas públicas, enviadas pela União, destinados ao socorro das vítimas da tragédia socioambiental que assolou a Região Serrana do Rio em janeiro em 2011. O episódio climático, foi considerado como um dos maiores desastres do Brasil, onde cerca de 900 pessoas morreram em toda Serra.

O ex-secretário de governo também foi condenado com a mesma pena. Além do período de reclusão, ambos terão que devolver aos cofres públicos cerca de R$ 171 mil, cada um. Segundo o MPF, os réus poderão recorrer em liberdade. Um empresário também foi sentenciado.

A sentença foi um resultado de uma ação civil pública promovida pelo MPF, que denunciou os réus de desvio de recursos públicos, que gerou um prejuízo de mais de R$ 300 mil aos cofres do município. Conforme as investigações, a cidade de Nova Friburgo recebeu da União R$ 10 milhões para custear ações emergenciais decorrentes da catástrofe.

Irregularidades

Na tramitação dos recursos o MPF apontou que durante o ocorrido, a prefeitura praticou diversas irregularidades como, superfaturamento de serviços contratados, dispensa ilegal de licitação, pagamento por serviços não executados e fraude na seleção da empresa contratada. No caso descrito no Processo nº 0000825-74.2011.4.02.5105, o Executivo Municipal contratou então uma empresa para ajudar na restauração de equipamentos públicos por cerca de R$ 600 mil, porém cerca de R$ 171 mil foram desviados para o patrimônio da empresa, mediante desconto de um cheque na boca do caixa em junho de 2011.

Além disso, o ministério constatou que serviços contratados de desinsetização, desratização e limpeza de reservatórios de água foram superfaturados e, muitas vezes, não foram sequer prestados. Também foi apontado que a empresa recebeu até por serviços em escolas que não foram atingidas pela tragédia ou que não existiam mais. De acordo com o processo, os próprios empresários revelaram que antes da confecção dos orçamentos já haviam acertado as contratações com Dermeval.

Durante a operação, o MPF detectou a existência de 42 procedimentos relacionados ao repasse de R$ 10 milhões pela União, quando somente 15 haviam sido encaminhados ao órgão. A partir da documentação apreendida, foi possível comprovar a existência de diversos documentos falsificados, autorizações de despesa que foram inseridas sem data e posteriormente preenchidas com data retroativa, pagamentos sem prestação de serviços, superfaturamentos, direcionamentos para determinadas empresas, maquiagem dos procedimentos e planilhas de medição forjadas.

Com a atual condenação, foi ressaltado pelo Procurador da República Luís Cláudio Senna Consentino, a importância da fiscalização nas esferas públicas. "A decisão judicial reforça a ideia de que práticas corruptas, sobretudo em contextos de crise, são condutas de alta reprovabilidade e devem culminar com a punição dos responsáveis. O caso é exemplo do uso do direito penal como controle da gestão pública e da defesa dos direitos das vítimas que tiveram seus auxílios desviados por motivações ilícitas", disse.

Réus

A equipe de reportagem entrou em contato com Dermeval Barboza Moreira Neto, e não recebeu um posicionamento até o final da edição. Além disso, não conseguimos contato com o ex-secretário de governo, cujo nome não foi citado e nem com os empresários mencionados no processo promovido pelo MPF.