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Maior vilã da poluição, CSN apela para o "Aço Verde"

CSN tenta melhorar sua imagem afirmando que parte de sua produção é de "Aço Verde" | Foto: Roberta Caulo

Por Sônia Paes

Fora dos limites de Volta Redonda (RJ), onde funciona a Usina Presidente Vargas, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), uma grande poluidora do município, tenta emplacar a imagem de politicamente correta e amiga do meio ambiente. Usou a coluna do jornalista Lauro Jardim, no jornal O Globo, para divulgar que fechou o ano de 2023 com a marca de 19% de sua produção classificada como o chamado Aço Verde. "Ou seja, sua produção não ultrapassa o limite de 0,2 tonelada de CO² por tonelada de aço produzido — o aço normal tem 1,9 tonelada de CO2 por tonelada produzida", diz a nota divulgada pelo colunista, que faz uma ressalva, acertada: "A indústria siderúrgica é uma das que mais polui no mundo. Contribui com 9% das emissões globais de CO² na atmosfera".

Incluindo a CSN, claro, a siderurgia é, mundialmente, o setor industrial com maior índice de emissão de CO2 na atmosfera, representando entre 7% e 9%, segundo a World Steel Association. Ainda em 2022, o ex-presidente-executivo da Usiminas, que integra o conselho de administração da empresa, Sérgio Leite de Andrade, falava que um dos desafios da siderurgia brasileira é justamente a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2). Em análise feita pelo executivo, a descarbonização passa por investimentos pesados e planos ambiciosos.

Marco na siderurgia

Fundada em abril de 1941 pelo entãom presidente Getúlio Vargas, a CSN foi a primeira produtora integrada de aço plano no Brasil, um marco no processo de industrialização do país. O aço produzido pela siderúrgica foi usado na implantação das primeiras indústrias nacionais, núcleo do atual parque fabril brasileiro. Atualmente, a CSN faz todo o processo de produção do aço, desde a extração do minério de ferro até a produção e comercialização da sua linha de produtos.

Polêmica em Congonhas

No município mineiro de Congonhas, o Grupo CSN também é motivo de preocupação para os moradores e lideranças ligadas à defesa do meio ambiente. Em outubro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça Federal pedindo a condenação da CSN Mineração ao pagamento de R$ 20 milhões a título de indenização por danos morais coletivos ambientais.

A mineradora é responsável pela barragem de rejeitos Casa de Pedra, em Congonhas (MG), onde ocorreram deslizamentos de terra em janeiro de 2022, ocasionando danos ambientais na região. Além da indenização, o MPF também pediu que sejam bloqueados, na Agência Nacional de Mineração, os direitos associados ao processo minerário da área em que se situa a barragem.

A barragem de rejeitos de Casa de Pedra é objeto constante de preocupação dos órgãos responsáveis pela fiscalização de sua segurança devido ao seu tamanho e proximidade com a cidade de Congonhas. Segundo dados da ANM (Agência Nacional de Mineração), a barragem da Casa de Pedra possui altura de 84 metros, ocupa uma área de 1.902.000m², e armazena 63.374.575,00m³ de rejeitos de mineração.

Para fins de comparação, a barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, operada pela Vale em Brumadinho, responsável pelo desastre ambiental que atingiu a Bacia do Rio Paraopeba, armazenava 12,7 milhões de m³ de rejeito, enquanto a Barragem de Fundão, operada pela Samarco em Mariana, responsável pelo anterior desastre que dizimou o Rio Doce, armazenava 43,7 milhões de m³ de rejeitos de mineração. Ou seja, os 63,3 milhões de m³ de rejeito de Casa de Pedra é quase seis vezes maior que a de Brumadinho.

Pátio de escória

Outro pesadelo diário dos moradores de Volta Redonda é pátio de escória da CSN, administrado pela empresa Harsco Metals, que opera o beneficiamento do resíduo, no bairro Brasilândia. A área fica às margens do Rio Paraíba do Sul e ao lado da BR-393 (Rodovia Lúcio Meira) e de ao menos seis bairros de Volta Redonda. O problema se arrasta há anos, sem que uma solução efetiva seja tomada.

A escória é um subproduto da indústria e envolve sobras da produção de aço dos altos fornos e das aciarias da Usina. O material é usado na fabricação de cimento, pavimentação de ruas e apoio de vias férreas.

Em um encontro realizado esta semana, no Hotel Bela Vista, a diretoria da CSN garantiu ao prefeito Antonio Francisco Neto e a um grupo de vereadores que o depósito não oferece ameaça para a população. A empresa informou que não há risco de desastres ambientais relacionados à pilha, mas reafirmou que todos os acordos feitos para desmobilização da área estão e serão cumpridos.

Também na questão da escória o MPF, se manifestou e pediu a remoção do material, acumulado desde a década de 1970. Até os dias de hoje não houve nenhuma intervenção da Siderúrgica nesse sentido. Em caso de um desastre, o que a CSN garante que não acontecerá, ocorreria um colapso hídrico no abastecimento da Região Metropolitana do Rio. As águas do Rio Paraíba abastecem milhões de consumidores dessa região.

Tamanha é a importância do Rio Paraíba do Sul que banha nada menos do que três dos quatro estados do Sudeste brasileiro: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Sua importância social, cultural, econômica e histórica para o país é indiscutível. Exceto pela CSN.

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