CCR quer abolir dinheiro em espécie na cobrança de pedágios até 2026
O CEO da CCR, grupo de infraestrutura que opera concessões rodoviárias no Brasil, disse nesta quarta-feira (7) que a empresa pretende eliminar o pagamento em dinheiro vivo em seus pedágios até 2026.
Em evento do BTG Pactual, Miguel Setas afirmou que o setor de mobilidade vai passar por uma revolução tecnológica nos próximos anos, com coberturas 5G nas estradas e a facilidade de ter mais operações digitais.
"Nós temos o objetivo de chegar a 2026 sem nenhum dinheiro nas nossas pedágios, de ter apenas cobrança com meios digitais, free flow e as outras ferramentas digitais", afirmou.
A CCR ficou responsável pela primeira experiência de pedágio "free flow" (sem parada) do Brasil, no trecho da Rio-Santos (BR-101) que liga Ubatuba (SP) ao Rio de Janeiro.
Nesse modelo, a cobrança é feita pela leitura automática de placas ou tags, sem que os motoristas precisem parar em cabines. A tecnologia abre caminho para que a cobrança seja feita por distância percorrida por cada veículo.
De acordo com Setas, o nível de inadimplência hoje na rodovia está na casa dos 11%.
"Já foi bem mais alto, mas os benchmarks internacionais mostram que nós devemos nos situar entre 5% ou 8% de inadimplência, que ainda assim é bem mais alto do que uma rodovia que tem os pedágios tradicionais."
O executivo participou de painel sobre concessões de infraestrutura, ao lado do ministro dos Transportes, Renan Filho.
Também estava no evento o CEO da Ecorodovias, Marcello Guidotti, que disse que 80% da receita da companhia hoje já é obtida de forma eletrônica, sendo 70% com cobrança em tags e 10% em cartões.
Segundo ele, essa dinâmica vai transformar o sistema de rodovias, inclusive porque hoje os contratos já colocam obrigações nesse sentido desde o começo.
Próximos investimentos
Setas, da CCR, também falou sobre os próximos passos da empresa no Brasil. Hoje, a concessionária já tem R$ 28 bilhões em investimentos contratados para os próximos anos, que é o saldo remanescente das atuais obrigações contratuais. No radar, há outros R$ 180 bilhões em investimentos previstos.
O executivo disse que tem uma visão otimista do que chama de superciclo de investimento em infraestrutura no Brasil. Segundo ele, o país investe desde os anos 1980 algo em torno de 2% do PIB (Produto Interno Bruto), sendo que o ideal, na avaliação de especialistas, seria próximo de 4%.
"Energia elétrica, transporte, saneamento e telecomunicações: essas quatro áreas, no ano passado, representaram R$ 213 bilhões. Como nós sabemos, já teve uma aceleração, teve 20% de aumento em relação a 2022 em termos de investimento em infraestrutura. Portanto nós estamos vendo esse superciclo a formar-se", afirmou.
Guidotti também vê com otimismo os próximos anos. Durante o painel, ele contou que acabara de voltar da Itália, onde esteve reunido com os acionistas, e que hoje o CEO do grupo ia se reunir com o ministro de infraestrutura italiano.
"Eu comentei que ia encontrar o ministro [Renan Filho] e íamos falar de investimentos, oportunidades, crescimento. Ele [CEO do grupo] estava meio abatido, porque quando chega no ministro [italiano] a propor algum investimento, já querem falar que estamos aproveitando, que queremos ganhar mais dinheiro... Ou seja, não tem diálogo", comentou.
"Aqui nós temos oportunidades que, no momento, temos que aproveitar. E é evidente que o Brasil hoje realmente atrai muito", acrescentou.
Segundo Guidotti, a companhia tem R$ 40 bilhões em investimentos já contratados, sendo R$ 8 bilhões entre 2024 e 2025.
"Acabei de voltar de um país, como a Itália, que tem um problema de infraestrutura muito grande e não consegue desenrolar. Nós estamos aqui com um pipeline gigantesco", afirmou.