Por:

Movimento faz audiência em Brasília sobre poluição da CSN

Audiência também pautou sobre visita da Ministra do Meio Ambiente na cidade | Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados

Por Thomás de Paula

A poluição ocasionada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na cidade de Volta Redonda, no interior do Estado do Rio, foi pauta de uma audiência pública em Brasília, nesta terça-feira, dia 09. Presidida pelo deputado federal Glauber Braga, do Psol.

O debate, que aconteceu na Câmara dos Deputados, também reuniu os representantes do Movimento Sul Fluminense contra a Poluição, Alexandre Fonseca e Adriana Bittencourt. Para abrir a audiência, Adriana destacou a projeção da poluição atmosférica pelo "pó preto" - poluente sedimentável de micropartículas de ferro emitido pela CSN na chamada 'Cidade do Aço'.

Pilhas de escória

Outra questão pautada foi sobre a pilha de escória, no bairro Brasilândia, próximo às margens do Rio Paraíba do Sul. As pilhas somam mais de 30 metros de altura de rejeitos de processo de produção do aço, que são administradas pela Harsco. Ainda de acordo com a representante, existe uma liminar para diminuição do material para 4 metros, desde 2018, mas foi revertida para 8 metros e, mesmo assim, a nada foi feito.

Ela ressaltou ainda sobre a denúncia de contaminação de solo em um terreno no Volta Grande 4, que foi doado ainda na época da privatização da CSN para o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, comandado então por Luiz de Oliveira Rodrigues, o Luizinho.

Segundo Adriana, já era de conhecimento a contaminação da área, que mesmo assim foi usada para a construção de casas populares entre meados dos anos 2000. Ele disse que, por exemplo, moradores do bairro não podem usar o quintal das suas casas, nem plantar hortas ou colher frutas em árvores do bairro.

VR x Cubatão

O diretor da ONG Arayara, Juliano Bueno de Araújo, também foi convidado a falar no evento. Para a audiência, Juliano apresentou uma relação sobre o que acontece em Volta Redonda, sul do interior do Estado do Rio de Janeiro, e o que aconteceu em Cubatão, cidade de São Paulo, que em 1980 foi reconhecida mundialmente pela poluição atmosférica, apelidada até mesmo de "Vale da Morte".

Outro impacto abordado sobre a poluição da CSN foi com relação à saúde de animais, a vegetação e qualidade da água na cidade. Outro integrante do movimento, José Arimathéa Oliveira, ex-prefeito da cidade vizinha de Pinheiral, afirmou durante a audiência que a vegetação nativa, paisagística e de arborização urbana sofre com a quantidade de pó de ferro emitido.

"Volta Redonda foi entregue como uma zona de sacrifício ambiental em nome do desenvolvimento econômico e da riqueza de alguns poucos", disse.

Ministério do Meio Ambiente

A Coordenadora-Geral de Qualidade Ambiental, Cayssa Marcondes, disse que o município está sendo acompanhado há bastante tempo pelo Ministério do Meio Ambiente e que a questão da poluição em Volta Redonda está sendo tratada como prioridade, já que, segundo dados apresentados por ela, 7 milhões de mortes acontecem no mundo por exposição ao mesmo material emitido pelas siderurgia.

Promessa antiga e no esquecimento

O deputado federal Lindbergh Farias, do PT, foi outro que participou da audiência, na capital federal.

"Esse é um problema do Brasil e não só da região e, por isso, é muito importante que as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Saúde, Nísia Trindade, visitem a região em busca de soluções", disse.

Acontece que o deputado havia confirmado, ainda em 2023, que a ministra Maria Silva iria conferir de perto os danos provocados pela empresa, até no máximo setembro, do ano passado, em Volta Redonda. Na época, ao ser cobrada, a assessoria do deputado afirmou que não havia data definida e que aguardava a agenda da ministra.

Raone vai a Brasília

Ainda este ano, o vereador de Volta Redonda, Raone Ferreira, do PSB, teve seu terceiro encontro com Marina Silva, também em Brasília, e entregou um relatório de 87 páginas que detalham a situação ambiental da cidade.

Ele aproveitou para reforçar a urgência de intervenções imediatas, já que a poluição chegou a níveis insustentáveis e criticados até mesmo pelo prefeito Antonio Francisco Neto. No encontro com Raone, a ministra voltou a se comprometer em visitar a cidade no segundo semestre deste ano.

Críticas

Para concluir a audiência, o Fundador do Movimento Sul Fluminense contra a Poluição, Alexandre Fonseca, criticou a política local, que, segundo ele, não reage.

- O prefeito Neto, que está em seu quinto mandato, poderia ter feito qualquer tipo de ação para tentar mitigar a situação - disse, acrescentando que a população deveria ser compensada pelo prejuízo causado pela siderúgica.

"A CSN ainda domina Volta Redonda e não conseguimos fugir disso, então ela precisa compensar pelo que ela faz", concluiu.

A audiência em Brasília, nesta terça-feira, antecedeu o ato que será promovido contra a poluição emitida pela CSN em Volta Redonda, organizado pelo movimento. O protesto, o terceiro em três anos, acontecerá no dia 21 de julho. A concentração será na Praça Brasil, na Vila Santa Cecília.

Estagiário