Por Lanna Silveira
A crescente repercussão de ataques de Pit Bull no país - incluindo um episódio que aconteceu na última semana em Volta Redonda, em que o cachorro mordeu uma cadela de pequeno porte, causando sua morte -, levantou a discussão sobre o descarte do uso de coleira e focinheira por parte dos cães de grande porte, apesar desses cuidados serem determinados por lei.
A veterinária Fernanda Ribeiro reforça a necessidade de se seguir a Lei Federal Lei Federal n°. 2.140, de 2011, que dispõe a obrigatoriedade do uso da focinheira e estabelece regras de segurança para a condução responsável de cães de grande porte ou de raças consideradas perigosas. A profissional explica que os donos sempre devem passear com os seus animais fazendo o uso de ferramentas de contenção do animal para garantir que a integridade de pessoas e outros animais que estejam ao seu redor seja protegida.
Fernanda também alerta aos donos que as medidas de segurança devem ser tomadas mesmo se o cão apresentar um comportamento dócil no dia a dia. "Por se tratar de uma espécie que não é racional, um acidente pode ocorrer por mais manso que o animal seja ou pareça. Um susto, por exemplo, pode levá-lo a reagir de uma forma que não seja comum a ele", explica, reforçando que a lei não se aplica apenas aos Pit Bulls como para raças como Pastor Alemão, Rottweiler, Doberman e outras.
A circulação de casos famosos de ataques de Pit Bull, especificamente, reforçou a imagem da raça como a mais agressiva entre os cães, incentivando uma reação negativa ao animal. Fernanda afirma, entretanto, que os Pit Bulls não são naturalmente mais ferozes que outros cães, explicando que o comportamento do cão depende da criação recebida e do tamanho de seu convívio social com outros cães. A veterinária esclarece que o perigo dos ataques de Pit Bull, assim como o de outros cães de grande porte, diz respeito a força da mandíbula do animal, que pode causar danos físicos maiores em comparação a mordida de outras raças.
A presidente da Sociedade Protetora dos Animais (SPA), Carminha Marques, reafirma a isenção de culpa do animal nos casos de ataque, atribuindo a responsabilidade a falta de cuidado dos tutores. "Sabemos que são raças fortes e que têm seus instintos, como qualquer animal. Tem a lei que deixa bem claro sobre o uso de focinheira em local público, e essa irresponsabilidade gera mais revolta por essas raças. O cão acaba sempre sendo o vilão", aponta.
Casos sem repercussão
A moradora do bairro Voldac, Patrícia Cristina Vieira, conta que sua cadela, da raça Shitzu, também sofreu um ataque recente de um cão da raça American Bully durante um passeio. Segundo o relato, a pet de Patrícia foi atacada por uma mordida no peito, que deixou marcas no corpo do animal. O ataque também causou o deslocamento dos ossos da pata dianteira da cadela.
Após o ocorrido, o animal de Patrícia teve que ser levado ao hospital veterinário, sendo atendido com anti-inflamatórios e remédios para a dor, por conta da pancada que sofreu ao ser jogado no chão pelo American Bully. Patrícia acrescenta que prestou depoimento do caso na delegacia, tendo o apoio de vizinhos como testemunhas do ocorrido, para tentar garantir que ataques do tipo não aconteçam novamente em sua rua. "Naquele dia minha cachorrinha foi atacada, mas poderia ser uma criança, a rua tem bastante crianças pequenas, sem falar nos idosos", acrescenta.
Contenção do ataque
Para aumentar a segurança durante passeios, o adestrador Maycon Monteiro recomenda que, além do uso obrigatório de focinheira, os donos de cães de grande porte levem ferramentas como o "break stick" e a "guia unificada", que facilitam intervenções durante ataques. O break stick é um pedaço de madeira, ou de nylon, feito para destravar a boca do cachorro durante uma mordida persistente. "Você coloca o break stick deitado na região do molar, e assim que ele estiver posicionado entre dois molares do cão, você vai virando a ferramenta e abrindo espaço na boca dele", explica.
Já a guia unificada, que é usada no pescoço do cachorro, permite que o tutor controle seus movimentos durante e após a mordida. "Quando o dono contém o movimento do cachorro com a guia, (o animal) vai perder a força da boca durante o ataque e soltar a presa. O dono também vai conseguir restringir o cachorro e impedir que ele tente morder a vítima novamente", esclarece. O adestrador avisa que, na falta da guia, artigos como cinto de calça podem ser utilizados como substitutos.
Maycon acrescenta que a primeira reação dos tutores em casos de ataque é tentar puxar o cachorro, e que o uso dessas ferramentas mais apropriado para evitar o rasgo do que está na boca do cão. Apesar das alternativas, o veterinário reforça que o uso da coleira é obrigatório em passeios e deve ser priorizado. "Se não tiver, não saia de casa. Sem equipamentos corretor, o controle se torna menos eficiente", conclui.