Dois empregados planejam matar o patrão. Este é o ponto de partida do espetáculo teatral “Voz surda”, que fará temporada às sextas e sábados de novembro, em diversos equipamentos do Sesc, no Rio e na Região Metropolitana da Cidade. Dentre elas estão as cidades de Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Valença e Campos.
A montagem, da Cia Coletivo sem Órgãos, é uma dramaturgia autoral de Rodrigo de Todos os Santos, construída durante o processo de ensaio e livremente inspirada na peça “As criadas”, do dramaturgo francês Jean Genet.
No texto de Genet, as duas criadas se revezam no jogo de imitar a patroa, e assim as forças de opressão vão migrando entre elas. A escolha do tema, então, não foi gratuita. As relações entre empregado e empregador, oprimido e opressor, têm tudo a ver com o momento atual do país.
Mesmo com a taxa de desemprego na casa dos 6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Brasil ainda soma 7,3 milhões de pessoas sem ocupação no país. Ainda de acordo com o Instituto, somam-se a eles 4,3 milhões de brasileiros em desalento, ou seja, que desistiram de procurar emprego, além de 38,9 milhões de trabalhadores na informalidade. A reforma trabalhista, iniciada em 2016, e aprovada pelo governo, prejudicou aquele que vende sua força de trabalho, sua mão de obra.
“O espetáculo propõe discutir as relações e situações que o corpo preto-periférico encontra em ambientes de trabalhos subalternos, levando em consideração as situações cotidianas, vivenciadas por pessoas que prestam serviços em casas e outros ambientes em que existe uma relação de poder e opressão explícitos”, pontua Rodrigo de Todos os Santos, diretor do espetáculo.
Muitas reflexões surgiram a partir da pesquisa sobre relações de trabalho. Livros como “A elite do atraso”, de Jessé Souza, e “O que é lugar de fala?”, de Djamila Ribeiro, também foram fontes de pesquisa, já que os autores se propuseram a investigar a construção do subalterno ao longo do tempo.
O nome do espetáculo é inspirado no artigo “Pode o subalterno falar”, da filósofa indiana Gayatri Spivak. No estudo, Spivak explica que em muitos momentos, nas relações de trabalho, o patrão parece induzir o funcionário a dizer as questões que lhe incomodam naquele ambiente.
O opressor cria formas para que essas insatisfações sejam ditas nos momentos convenientes a ele; entretanto, o que é dito não passa dos locais e das pessoas selecionadas pelo patrão. Dessa maneira, a voz do empregado é impedida de perpetuar, ou seja, o chefe cria uma falsa sensação de poder de fala, fazendo da voz de seu empregado uma voz surda.
O trabalho de pesquisa do espetáculo começou em 2018 e, em 2021, foi selecionado para representar o Sesc Engenho de Dentro na Mostra Sesc Regional Zona Norte, e em 2022, foi contemplado pelo FOCA, quando teve uma temporada de um mês no teatro Ruth de Souza, em Santa Teresa, alcançando aproximadamente 500 pessoas.
SERVIÇOS:
22/11 | Niterói | 19h - sexta
R. Padre Anchieta, 56 - São Domingos, Niterói
29/11 | Teatro Sesc Rosinha de Valença | 20h - sexta
Av. Profa. Silvina Borges Graciosa, 44 - Belo Horizonte, Valença
30/11 | Madureira | 16h - sábado
R. Ewbank da Câmara, 90 - Madureira, Rio de Janeiro
06/12 | Campos | 19h - sexta
Avenida Alberto Torres, 397 - Centro - Campos/Rio de Janeiro