Alta do dólar reflete em viagens de final de ano em Volta Redonda
Agências de turismo registram queda na procura por pacotes
Por Lanna Silveira
Nos últimos meses de 2024, a cotação do dólar teve um aumento expressivo que preocupa tanto investidores e economistas quanto as pessoas quem planejaram viagens internacionais para as férias de verão. Nesta segunda-feira (23), o valor da moeda estrangeira chegou a R$ 6,20, representando um crescimento de 25% em relação ao preço de janeiro deste ano, que estava em R$ 4,89.
Segundo Kely Santos, que trabalha como agente de turismo, a cotação crescente do dólar resultou em um aumento de cerca de 15% no valor das passagens aéreas nos últimos dois meses. Em contrapartida, os preços de hospedagem se mantêm controlados devido a promoções feitas por fornecedores ao mercado brasileiro, justamente em resposta a crise.
Os meses de dezembro e janeiro são considerados de "alta temporada" no mercado turístico. Entretanto, Kely afirma que o número de viagens de sua agência neste fim de ano diminuiu em relação a anos anteriores por conta da elevação de preços. Além da redução na procura, a agente de turismo afirma que muitos clientes estão preferindo destinos com moedas mais baratas, citando como exemplo os dólares canadense, australiano e neozelandês.
Optar pela economia no câmbio de moedas é uma das orientações que Kely oferece aos clientes em épocas de alta na cotação do dólar, além de parcelar os pacotes de viagem, escolher destinos que não precisem de visto - algo que também diminui os custos da viagem - e escolher períodos de baixa temporada para viajar, visto que nestes meses tanto as passagens aéreas quanto a hospedagem têm menores custos.
Cenário em 2025
Segundo a economista Sônia Vilela, o aumento recente da cotação do dólar é consequência de alterações no mercado interno e em mercados internacionais. Sonia explica que outras moedas além do real se desvalorizaram em relação ao dólar devido à política de juros altos aplicada pelos Estados Unidos desde o período da pandemia de Covid-19, que provocou uma busca maior dos investidores pela compra de títulos americanos.
Por consequência disso, os mercados de países emergentes, como o Brasil, sofrem com o fenômeno da "fuga de capitais", que ocorre quando investidores retiram rapidamente seus recursos financeiros de um país. Na situação atual, conforme explicado por Sônia, os investidores tendem a preferir o mercado estadunidense devido a possibilidade de obter grandes lucros com investimentos de baixo risco. Em resposta a isso, os mercados de países emergentes tendem a aumentar a taxa de juros em uma tentativa de se manter atraentes aos investidores.
A economista explica que a desvalorização do real é consequência de muitos fatores que podem ser externos ou decorrentes da situação socioeconômica brasileira. "No Brasil, existem problemas que vêm do Congresso, que está atrasando as votações das pautas econômicas, além dos gastos das emendas parlamentares que dificultam, em parte, o ajuste do pacote fiscal, provocando ainda mais incertezas em relação à capacidade do poder executivo em reduzir esse déficit. Assim, o mercado pressiona pelo aumento das taxas de juros, o que provoca o crescimento de despesas por conta dos serviços da dívida, que já comprometem cerca de R$ 800 bilhões anuais - esclarece a economista.
Outras consequências da valorização do dólar em detrimento do real são o excesso de especulação financeira, que prejudica o setor produtivo e os rendimentos fixos, além do aumento da inflação brasileira, visto que cerca de 30% dos preços internos - que inclui os custos de energia elétrica, gás de cozinha, medicamento, trigo e combustíveis - sofrem com a variação do dólar.
Sonia antecipa que a desvalorização do real e o aumento das taxas de juros no Brasil continuem nos primeiros meses de 2025. Para a economista, existe a possibilidade do preço do dólar voltar a média de R$ 5,50 a R$ 5,70 no segundo semestre do ano, caso os Estados Unidos reduzam os juros e ocorra uma desvalorização da moeda com o objetivo de aumentar as exportações do país.