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Racismo em escola provoca afastamento de professora

Sepe de Volta Redonda divulga nota de repúdio ao fato ocorrido em sala de aula | Foto: Reprodução

Por Lanna Silveira

Dois casos de racismo em colégios de Volta Redonda foram denunciados nas redes sociais essa semana. Um resultou no afastamento de uma professora do colégio I.E.P. Manuel Marinho após ela ofender um grupo de alunos durante uma de suas aulas. A segunda foi sobre uma suposta negligência da equipe do CAP-Ferp no tratamento de uma injúria racial sofrida por um aluno, que partiu de outra estudante. A vítima, com trauma psicológico, está ausente das aulas.

A ocorrência no Manuel Marinho foi divulgada em uma postagem do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro) de Volta Redonda. Segundo o relato, a professora teria feito comentários de exaltação ao período monárquico brasileiro. Ao ser questionada por alguns estudantes sobre o teor das falas, ela teria rebatido dizendo que "os negros se vitimizam muito" e que "a escravidão nunca existiu".

Além disso, a professora teria afirmado que a população negra escravizada durante o período se oferecia ao tráfico negreiro e feito declarações de apologia ao nazismo também na sala de aula. O caso teria sido denunciado à direção da escola pelos próprios estudantes.

Professora é afastada

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação informou que a professora foi afastada das atividades com a turma e uma sindicância está sendo aberta para apurar a situação. Além disso, uma equipe de educadores do núcleo de Diversidade Racial da secretaria foi enviada à escola para prestar apoio à comunidade escolar.

O caso de racismo já foi registrado na 93° Delegacia de Polícia. O Sepe de Volta Redonda também anunciou que abriu uma denúncia sobre o fato no Ministério Público do Rio de Janeiro. Segundo a coordenação do sindicato, a situação demonstra um problema de formação dos profissionais de educação no que diz respeito ao conhecimento sobre o combate ao racismo.

Negligência

O caso ocorrido no CAP foi divulgado nas redes sociais da coordenadora do núcleo voltarredondense do Sepe, Juliana Carvalho. Segundo a mãe do aluno, a coordenação do colégio teria entrado em contato no mês de fevereiro para alertar que seu filho teria ouvido "palavras pejorativas" em sala de aula, sem oferecer mais detalhes.

Após uma reunião com a coordenação pedagógica, foi exposto que uma colega de sala o chamou de "macaco" e ambos os alunos foram levados à coordenação para falar sobre o caso.

Fora da sala de aula

A mãe afirma que, após o episódio, o filho não consegue ir à escola e socializar com os colegas, além de apresentar crises de ansiedade constantes e precisar passar por atendimento psicológico e psiquiátrico. "Ele está envergonhado e magoado", acrescenta a mãe, que teria entrado em contato com o colégio novamente para questionar quais seriam as ações da coordenação para resolver o caso.

A escola teria informado à ela que a família da aluna que fez a ofensa recebeu um comunicado. Além de pedir que a escola oferecesse suporte psicológico a seu filho, a mãe do menino solicitou uma reunião com a direção da escola e com a família da aluna envolvida - ambos os pedidos não teriam sido atendidos. A mãe também questionou o motivo de termos como "racismo", "preconceito" e "discriminação" não terem sido utilizados para descrever o caso nos registros do ocorrido e solicitou a inclusão deles nos documentos em mais de uma ocasião, também sem sucesso.

Dias depois, a coordenação teria entrado em contato com a responsável para informar que a instituição não se manifestaria sobre o caso, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Nesta segunda-feira, dia 17, a escola teria entrado em contato com a mãe para questionar a ausência de seu filho nas aulas. Após enviar o atestado médico justificando as faltas, o colégio ofereceu suporte para que o aluno pudesse realizar as atividades promovidas durante o período de faltas.

- O impacto do racismo é absolutamente absurdo. Vivemos em um país onde a cor da pele é determinante para o acesso ou não de direitos. Além disso o racismo causa impactos emocionais e traumas impossíveis de serem removidos. Por isso reforçamos a importância de investimento na educação para a garantia de modificação das estruturas racistas estruturais. Afinal, crianças não se odeiam, mas são ensinadas a isso, e em uma sociedade racista muitas vezes o ódio é fomentado pela omissão - declara Juliana Carvalho.

O Correio Sul Fluminense entrou em contato com o CAP-Ferp para pedir um posicionamento sobre o caso. Em nota, a equipe do colégio ressaltou que, após o ocorrido, os alunos foram encaminhados até a coordenação, afirmando que foi promovida uma conversa sobre respeito e racismo e que a aluna que proferiu a ofensa pediu desculpas e se demonstrou arrependida. A nota também enfatiza que o colégio entrou em contato com os responsáveis dos dois estudantes para informar o caso, que foi registrada uma ocorrência nos boletins escolares, e que os professores foram orientados a reforçar o monitoramento dos alunos para prevenir novos ataques.

Na percepção da equipe do colégio, o aluno não demonstrou desconforto durante os dias em que esteve presente nas aulas, antes de se ausentar. Após receber a justificativa das faltas pelo atestado médico, a escola apontou que se dispôs a ajudá-lo a realizar as tarefas avaliativas que ele perder durante o período, e que todo o material será registrado e enviado para a família.

Sobre a oferta de um atendimento psicológico, a escola afirma que possui uma disciplina na grade curricular que visa desenvolver nos alunos o gerenciamento de emoções e oferecem acolhimento, além de promover a formação ética e social dos alunos.