Por Lanna Silveira
A falta de mão de obra no mercado de trabalho brasileiro tem sido alvo de pesquisas e discussões em todo país. Segundo estudos do Instituto Brasileiro de Economia (FGV-Ibre), mais da metade das empresas brasileiras encontram dificuldades para contratar profissionais e garantir que eles permaneçam no emprego. A crise afeta diferente setores empresariais e já causa impactos notáveis na economia brasileira, exigindo que os contratantes desenvolvam estratégias de adaptação para oferecer vagas.
Segundo Veronica de Lyra Maranhão, que atua com desenvolvimento de pessoas há mais de 25 anos em empresas nacionais, este problema está ligado à falta de qualificação dos candidatos, de forma geral; à desvalorização de determinadas profissões, cujas ofertas de emprego são ignoradas; e à dinâmica de salários e benefícios oferecidos pelos empregadores. A profissional explica que, nas capitais, as dificuldades estão relacionadas à alta demanda por vagas de emprego e à competição intensa por talentos. No interior, em contrapartida, o desafio envolve a falta de opções de empregos qualificados no mercado, os salários baixos das vagas e a falta de possibilidade de crescimento na carreira. "Esse cenário se manifesta de forma diferente em cada região, mas o fundo do problema está relacionado à discrepância entre as habilidades disponíveis entre os trabalhadores e as necessidades do mercado de trabalho", acrescenta.
Em Volta Redonda, os setores de maior dificuldade de preenchimento de vagas são o das redes de supermercados e o setor automobilístico, segundo informações do Sine. O último setor não preenche vagas pelo sistema há mais de 12 meses, enquanto as redes de supermercados registraram, via Sine, entrevistas há três meses e a expectativa é que as vagas sejam preenchidas em seu total.
Veronica explica que as dificuldades de contratação de mão de obra partem tanto dos contratantes quanto dos contratados: enquanto as empresas enfrentam impasses devido à falta de habilidades e qualificação dos funcionários, os trabalhadores tendem a rejeitar ofertas por priorizarem condições de emprego favoráveis, com salários mais altos e melhor qualidade de vida. A especialista observa que essa postura é resultado da transição geracional dos profissionais disponíveis no mercado de trabalho: enquanto trabalhadores mais jovens tendem a valorizar cargos que ofereçam flexibilidade, propósito e alinhamento com seus valores pessoais, os mais velhos priorizam estabilidade e cultivam compromisso e lealdade à empresa, apontando que este cenário exige atenção e adaptação dos contratantes.
- A diferença de comportamento geracional tem levado as empresas a repensarem suas estratégias de contratação e retenção. Enquanto empresas pequenas podem se beneficiar de uma cultura mais flexível e próxima, as empresas grandes têm mais recursos para implementar programas de desenvolvimento, benefícios atraentes e estratégias de diversidade e inclusão. O desafio está em equilibrar as expectativas de diferentes gerações, garantindo que todos os colaboradores, independentemente da faixa etária, se sintam motivados, reconhecidos e alinhados com os valores e os objetivos da empresa.
Impactos econômicos
Especialistas e estudiosos do mercado de trabalho avaliam que a escassez de mão de obra é um problema que não afeta somente a iniciativa privada, causando danos na economia do país de forma geral, afetando o crescimento econômico, a produtividade, a competitividade das empresas e qualidade dos empregos em oferta. Veronica avalia que, para superar essa realidade, uma combinação de estratégias deve ser utilizada, citando o investimento em educação básica, qualificação profissional e inovação tecnológica, o que pode garantir um desenvolvimento de mercado mais sustentável e inclusivo no futuro.
Ela ressalta ainda que as gestões municipais podem ser fundamentais na resolução do problema, elaborando estratégias de qualificação profissional acessíveis à população, investindo em mobilidade regional para auxiliar os trabalhadores que precisam se deslocar por grandes distâncias para chegar até seus empregos, e estabelecendo incentivos fiscais para empresas em apoio à inovação. "O desafio está em integrar essas políticas de maneira eficaz para que as soluções tenham um impacto real e duradouro", conclui.