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Recorte pessoal e íntimo do amor de dois personagens históricos

Nos trechos das cartas que compõem a dramaturgia de "Olga e Luiz Carlos - Uma História de Amor", estes grandes personagens da história do século 20 surgem plenamente humanos aos olhos do espectador, explicitando o amor incondicional de Olga por Anita Leocádia, a filha nascida em 27 de novembro de 1937 quando Olga está presa em Berlim, depois de ter sido deportada de forma ilegal e covarde do Brasil para a Alemanha nazista portando uma menina brasileira em seu ventre.

Hoje, aos 85 anos, a historiadora Anita Leocádia - que sempre privilegiou contar a história política de sua família - aceitou falar pela primeira vez da vida pessoal em duas longas entrevistas, que inspiraram o espetáculo: a primeira, exclusiva para o cineasta e outra, mais recente, concedida ao elenco e à equipe de criação da peça. A maneira como Anita descreve os pais foi fundamental na escolha dos trechos a serem encenados, selecionados no terceiro volume da coleção "Anos Tormentosos", editados por ela e por Lygia Prestes, irmã mais jovem de Prestes, e que compreende cerca de 900 cartas, guardadas por elas ao longo de mais de 50 anos.

Olga Benário geralmente é vista apenas como uma combatente e sua história com Prestes como uma aventura política. O espetáculo pretende mostrar Olga como uma mulher que amou. Amou profundamente o pai de sua filha, com quem se correspondeu mesmo durante cinco anos depois de terem se visto pela última vez. Amou seus companheiros revolucionários e as mulheres com quem compartilhou as dores do cárcere, entre elas Elise Ewert, sua companheira de deportação, e com quem ficou presa no campo de concentração de Ravensbrück.

Luiz Carlos Prestes, conhecido como o "Cavaleiro da Esperança" que marchou com a Coluna Prestes, e como grande líder comunista, é retratado como um pai amoroso, um marido atento ao sofrimento da esposa, um homem de convicções políticas e preocupado com o conhecimento, com o estudo de temas os mais diversos - filosofia, história, política, matemática, literatura entre outros.

Em 1936, a deportação de Olga Benário, grávida de um bebê cujo pai era um dos políticos mais influentes do país mobilizou a opinião pública. Mais de 80 anos depois, o pano de fundo desta história de amor continua atual no Brasil e no mundo. Hoje vemos o desprezo pelas liberdades individuais e pela vida humana em meio a uma disputa irracional por ideais políticos. Essa história de amor interrompida deve soar como um alarme para nos alertar sobre o mundo que deixaremos às gerações futuras. O espetáculo dirige-se ao público carioca e a todos os demais brasileiros, convidados a refletir sobre conceitos como cidadania, participação política e estado de direito, direitos humanos, liberdade de expressão, dignidade.

Segundo Isabel Cavalcanti, "Vivemos nos últimos anos um período atroz de retrocesso político, de guerra psicológica, emocional e moral. Ao homenagearmos Olga e Prestes no teatro, é sobre o tempo de hoje que estamos falando. O teatro é o lugar em que a nossa humanidade ainda sobrevive e onde é possível um diálogo amoroso. Como Olga diz em uma de suas cartas: "Uma coisa que tenho aprendido especialmente aqui é a conhecer o verdadeiro valor de tudo o que é humano, de toda a elevação e energia de que é capaz a alma humana."

O espetáculo foi contemplado pela Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Cultura via edital FOCA - Fomento à Cultura Carioca.

SERVIÇO

OLGA E LUIZ CARLOS - UMA HISTÓRIA DE AMOR

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana)

Até 9/7, de quinta a domingo (20h)

Ingressos: Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia), R$ 7,50 (associado do Sesc), e gratuito (PCG)

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