Logo na fachada da galeria o espectador se depara com a grande obra "Chuá!!!", de Hugo Houayek, feita em lona azul, simulando uma queda d´água. Os diálogos dos artistas que compõem a exposição com o legado de Hélio Oiticica vão se dar de diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Oiticica naquele momento que continuam atuais.
"A ideia geral é tentar pensar, como pano de fundo, como o Hélio traz questões da passagem para o contemporâneo que continuam sendo debatidas e que estão vivas até hoje de diferentes maneiras", afirma a curadora Fernanda Lopes.
A relação de Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. "Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. A partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições", afirma a curadora.
Diversas relações são criadas na exposição. Obras que fazem referência mais direta ao samba, como a pintura "Duas Mulatas" (1966), de Flávio de Carvalho, e a obra de Manuel Messias, estarão na mostra. "São referências mais literais, de artistas que tinham no samba um lugar de ação, não uma ilustração", conta a curadora.
Ampliando a questão musical, chega-se à movimentação dos corpos, sempre associado à música. Na exposição, essas relações são criadas, por exemplo, com os trabalhos de Aloísio Carvão e Celeida Tostes. Composto por uma caixa branca contendo círculos não uniformes, separados por tons diferentes, que vão do amarelo ao vermelho, a obra "Aquário II" (1967), de Aloísio Carvão, dialoga com o trabalho de Oiticica pela ideia de movimento. "Esta obra também tem algo rítmico ou uma possibilidade de reconhecer isso nessas peças, uma vez que depende do vento ou de outra situação que aconteça no espaço para que as peças se movimentem", diz a curadora.
Além disso, alguns trabalhos apostam ou se valem de um desconforto, que esteve presente na figura do Hélio. Por exemplo, quando ele fez exposição na White Chapel, em Londres, em 1969, muita gente adorou o fato de ele ter colocado areia de praia no chão, mas outras pessoas se incomodaram de terem que tirar o sapato. Remetendo a isso, estão os trabalho de Andro de Silva, com palhaços chorando, uma grande pintura de Rafael Alonso, medindo 1,30X1,70, que traz uma imagem incômoda para a vista, e três vídeos de "Sem título", de Sonia Andrade, que causam apreensão - em um deles ela está com a mão aberta em uma superfície com um prego entre cada dedo, tentando não errar a direção do martelo; em outro, ela depila os pelos de partes do corpo, como da sobrancelha, e no terceiro, aperta um fio em parte do rosto.
SERVIÇO
O QUE HÁ DE MÚSICA EM VOCÊ
Galeria Athena (Rua Estácio Coimbra, 50 - Botafogo)
Até 10/11, de terça a sexta-feira (11h às 19h) e sábados (12h às 17h)
Entrada franca