Edu Lobo: 'O que é MPB? É um partido político?'

Às vésperas de lançar um álbum duplo com releituras de suas canções, Edu Lobo rejeita rótulo de um dos inventores do que se chama música popular brasileira

Por Gustavo Zeitel (Folhapress)

Neste álbum, Edu Lobo joga luz sobre o viés infantil de sua obra

O sol cai de mansinho no mar de São Conrado, mas Edu Lobo, no alto de uma das pirambeiras daquele bairro da zona sul, está alheio à paisagem. "Eu moro aqui", diz o cantor e compositor, 80 anos recém-completados, dando as boas-vindas ao seu escritório, que fica no último andar de sua casa.

Com as persianas fechadas, o artista passa o dia todo em seu minarete, enfurnado entre pilhas de livros e discos, dividindo espaço com um bar, uma TV e um piano de cauda, posto logo ali para intimidar o intruso.

"Aqui tem tudo. Para que eu vou sair do escritório? Essa cidade é violentíssima. Tenho medo de andar na rua e, de repente, ser nocauteado", afirma o músico, encontrando sempre o humor no mau humor.

Encantado com o YouTube, por onde ouve música de concerto escrutinando as partituras, ele aguarda o lançamento, em , de "Oitenta", seu novo trabalho, composto por dois discos, cada um deles com 12 faixas.

Nas plataformas digitais ou mesmo em cena, Edu não entoará novas canções. O ineditismo do álbum reside nos arranjos e nos intérpretes arregimentados por ele, os cantores Ayrton Montarroyos, Mônica Salmaso, Vanessa Moreno e Zé Renato, do grupo Boca Livre.

Duas vezes vencedor dos festivais de música brasileira, com "Arrastão", em 1965, e "Ponteio", em 1967, Edu tem seu nome escrito em todos os livros de história. Ele não se entusiasma, contudo, com a interpretação de seus autores e suas hierarquizações.

"O que é MPB? É um partido político? Eu tenho horror a esses termos. Já me disseram que eu inventei a MPB. Eu nunca fui inventor de porcaria nenhuma", afirma o compositor. "Outra coisa, o Clube da Esquina, as pessoas se esquecem dele. É muito mais sofisticado do que a Tropicália. Isso não tem de ser um tabu, pode botar aí."