Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Tânia Alves empreendendo arte e beleza

Tânia Alves e Nelson Xavier em 'Lampião e Maria Bonita' | Foto: Divulgação

Em prol do equilíbrio de um organismo balanceado para o verão 2024, com todo o seu calorão uma proposta chamada "Day Spa Detox" surge como um bálsamo para a pele, os músculos e a alma, oferecidos em Ipanema, num oásis de celebração da saúde chamado Maria Bonita. O spa, um dos mais famosos do país, que tem unidade também em Nova Friburgo, carrega o nome de uma das heroínas mais importante das lutas sociais do Brasil. Heroína forjada no calor do cangaço, eternizada no imaginário pop do país graças a uma interpretação magistral de Tânia Alves. Há uma versão dele no Globoplay. Esse nordestern virou um dos pilares de nossa dramaturgia e eternizou sua protagonista (ao lado de Nelson Xavier) nas retinas da nação.

Aos 74 anos, a atriz e cantora paraibana segue a mil no empreendimento batizado em tributo de sua mais famosa personagem. Tem sempre uma novidade à vista nas unidades do Maria Bonita, que Tânia consolidou como um centro de valorização da arte de viver bem. Um fica na Rua Prudente de Morais, nº 729, e o outro fica na Rodovia Teresópolis-Friburgo km 56. Mesmo devotada aos negócios, ela nunca abriu a mão dos palcos e das telas.

Sempre alimenta novidades também em outras frentes, como um projeto teatral inspirado no livro "Criogenia de D." e uma série de filmes. Cuidado com o cinema, a estrela que soltou a voz em LPs como "Dona de Mim" e "Amores e Boleros" sempre tem, ostentando em seu currículo pérolas como "Parahyba, Mulher Macho" (1983) e "Cabaret Mineiro" (1980), que lhe rendeu o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado.

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'Tive o presente de poder ser todas as pessoas do mundo sendo atriz'

Tânia Alves | Foto: Divulgação

Na entrevista a seguir, Tânia Alves conta ao Correio da Manhã o que está por vir em sua carreira artística e dá sua receita de como equalizar seus dois mundos - o do spa e o da criação artística - extraindo poesia de cada um.

De que maneira essa experiência à frente do spa Maria Bonita impõe desafios à sua múltipla carreira? De que maneira a artista que você é harmoniza as demandas da empresária que se tornou?

Tânia Alves: O desafio é mesmo a agenda. É tipo um quebra-cabeças, em que o desafio maior, é conseguir conciliar as coisas. Às vezes, eu não tenho como conciliar, aí eu tenho que escolher, determinar as prioridades. Mas eu tenho que ter uma noção de prioridade muito grande. Sou muito organizada e disciplinada, do signo de virgem, e isso já ajuda bastante. São muitas as demandas de empresária. Se você olhar a minha agenda, vai ver mais assuntos do Spa Maria Bonita do que da carreira artística. O spa para mim é uma universidade sobre o ser humano, uma faculdade com quase 35 anos de existência. Muitas pessoas já passaram por aqui. Eu sempre faço um bate-papo para tirar as dúvidas de quem nos procura e, nessas conversas, eu vou conhecendo as pessoas. Tem coisas divertidíssimas e coisas tensas. Nós trabalhamos com uma proposta de uma qualidade de vida muito mais plena. Nós usamos um sistema criado por cientistas americanos chamado Natural Hygiene. Inspirados nesse sistema, nós criamos todos os nossos protocolos, nossos programas. O papel do meu SPA é dar, assim, um mapa da mina de como você ter uma vida mais plena, mais feliz e com qualidade. Beleza é uma consequência.

Você tem uma carreira no cinema singular, fora sua trajetória na TV, a se destacar "O Mágico e o Delegado" e "Cabaret Mineiro". Que lições - as mais bonitas e as mais árduas - a indústria audiovisual te deu, ao lado de diretores como Tizuka Yamasaki, Carlos Alberto Prates Correia e Fernando Coni Campos?

As lições são o desprendimento, a entrega, o desnudar-se, o ato de abrir espaço para ser outra pessoa. Quando eu era pequena, eu queria ser todas as pessoas do mundo. Eu ficava olhando uma pessoa imaginando como ela era quando era criança, como seria depois de velha. Ficava imaginando se ela tinha alguém. Eu queria estar dentro dessa pessoa. Eu queria ser essa pessoa, sentir como ela. Queria sentir o que todas as pessoas sentem. Então eu tive o presente de poder ser todas as pessoas do mundo sendo atriz. O cinema é uma coisa maravilhosa. Eu ganhei o Kikito com o "Cabaret Mineiro" em Gramado. Já o "Parahyba Mulher Macho" ganhou prêmios internacionais, passando em Havana, em Cartagena. Depois da pandemia, eu fiz três séries. Uma está no ar, chamada "Olhar Indiscreto", da Netflix, a série de língua não-inglesa mais vista no mundo. Já estou no sexto filme depois da pandemia.

"Sole Nudo", um filme italiano em seu rol de longas, completa 40 anos em 2024. Como foi aquela experiência na sua carreira?

"Sole Nudo" foi muito interessante porque era um filme internacional, todo falado em inglês. Tinha um diretor meio autoritário, o Tonino Cervi. Tinha um ator inglês, David Brandon, que fez o meu par romântico. Nós ficamos muito amigos depois das filmagens. Só fiquei muito decepcionada quando soube que, na Itália, eles dublam tudo para o italiano. Eu até pedi para dublar com a minha voz, porque é uma coisa dublada com a voz de outra pessoa. Mas, foi interessante, porque, depois que fui lançar o filme, fiquei três meses fiquei morando em Roma. Então, aproveitei e viajei pela Europa inteira. Eu visitei a Cinecittà (o mais famoso estúdio italiano) e tenho até hoje uma foto minha com uma roupa que a Sophia Loren usou num filme. As experiências internacionais são muito interessantes.

Que peso e que leveza a figura de Maria Bonita te trouxe, a julgar por todo o simbolismo de sua personagem na minissérie do Paulo Afonso Grisolli e do Luiz Antônio Piá?

Maria Bonita foi um divisor de águas na minha vida. Ela simboliza uma mulher forte e transgressora já para a sua época. Batizei o meu spa em homenagem a ela, porque existe algum laço mágico entre nós. Inclusive, eu me tornei amiga da família, amiga da Expedita, que é a filha do Lampião e da Maria Bonita, e da neta do casal, a Vera Ferreira. Quando eu olho isso aqui, eu penso que é um sonho de Maria Bonita. As pessoas que vêm aqui no spa e consideram o mundo mágico um metaverso, ficam deslumbradas não somente com a natureza aqui, mas com o trabalho que a gente faz de resgate da felicidade, da ressignificação da vida e tudo mais. É um gesto de amor. Para mim, o mais importante de tudo na história daquela minissérie é o fato de ela contar uma grande história de amor. A minha vida é antes e depois de Maria Bonita, porque fiquei conhecida popularmente. Televisão é uma loucura. No dia seguinte à exibição do primeiro capítulo, as pessoas já me paravam na rua.

Quais são seus planos para as telas em 2024 e o que planeja para o spa este ano?

Meus planos são: ir a todas as estreias de todos esses filmes que eu fiz nos últimos tempos. Um já estreou, que é o "TPM, Mon Amour". Mas aí eu fiz também o "Aniversário do Sr. Lair", com Tonico Pereira. É um curta que já tá até premiado. Tem o "Tudo de bom", do Ajax. Tem o filme "Senhoritas", de Mykaela Plotkin, que também já está prestes a ser lançado. Tem "As Aparências Enganam", que eu fiz no Ceará durante um mês morei lá. Estive num filme de ação brasileiro, onde eu faço o papel de uma chefe de inteligência. O nome é "Tiro Certo" e o ator principal é o Cláudio Mascarenhas, que também é produtor. Tive cenas lutando kung fu, tem tiroteios. Achei divertidíssimo. Tem o meu monólogo, "Criogenia de D.", que eu adaptei para o teatro a partir de um livro de Leonardo Valente. Estamos aguardando as leis todas para poder ter uma carreira normal, com temporada no Rio, temporada em São Paulo, turnê pelo Norte, Nordeste, Sul. Terei turnê por São Paulo do espetáculo que eu faço com a Lucinha Lins e a Virgínia Rosa, chamado "Palavra de Mulher", no qual a gente só canta músicas que o Chico Buarque fez com alma feminina. O que eu planejo é muita saúde, muita força. Nossa primeira casa é o nosso corpo. Então, o que eu planejo é cuidar do meu corpo, cuidar da minha voz, estar sempre pronta para dar conta disso tudo.

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