Confesso que estava com um certo pé atrás com os custos e a praticamente interdição do direito de ir e vir com o show da cantora no Rio. Nunca tinha assistido uma apresentação dela, e seu repertório nunca me interessou. Porque não compreendo inglês e porque esse gênero de música americana não me agrada nada.
Parei nos Rolling Stones, Velvet Underground e Bob Dylan - a cujas traduções tinha acesso. Mas gostava mesmo de suas entrevistas libertárias, transgressoras e anti-preconceituosas em geral.
Quis ver o que que a Madonna (a baiana) tem. E me surpreendi. Melhor: ela me hipnotizou!
Nada de caretice previsível de musical da Broadway. Um espetáculo performatico com tudo o que tem direito de linguagem artística contemporânea, com dramaturgia e encenação interpretada com expressividade.
Coreografia ousada de movimentos originais - formando imagens caleidoscópicas e cinematográficas.
A emocionante homenagem aos artistas vitimados pela Aids incluiu o grande ator Paulo Vilaça (de "O Bandido da Luz Vermelha"), meu grande amigo morto em 1992.
O resgate do espaço de Copacabana - que tem sido ultimamente palco de manifestações fascistas - assim como da bandeira do Brasil, sob os aplausos de 1 milhão e 600 mil pessoas, deu uma dimensão política que completou o discurso, escrito com os corpos, pela Liberdade e em defesa de todas as diversidades.
Viva Madonna!
*Cineasta e poeta