MORA NA FILOSOFIA: Papo com Marquês de Sade

Por ALDO TAVARES PROFESSOR-MESTRE EM FILOSOFIA

Marquês de Sade

Presença VIP no espetáculo profano de Madonna, o Marquês de Sade introduziu muitos obstáculos para ser entrevistado. Mas, após tanta insistência, concedeu uma entrevista à beira da piscina do Copacabana Palace, um dia depois de Madonna deixar o Rio de Janeiro. Só impôs uma só condição: publicar a entrevista depois de seu retorno à França, que foi ontem. Em uma cidade que fica aos pés do Cristo Redentor, Sade falou sobre o conceito de pornografia e riu muito quando perguntei a respeito do amor. Encontrar pessoas é encontrar palavras.

Gostou do show da Madonna?

Evidente que sim, todos os desejos sexuais, acima da moral cristã, estavam presentes.

Veio ao Rio só para assistir ao show?

Não, eu vim também para expor um curso sobre pornografia, chamado Filosofia na Alcova.

Esse nome é o nome de um dos seus livros.

Isso mesmo.

O que será pensado nele?

Falo no curso que a pornografia tem finalidade política, no sentido original de que a palavra "política" significa "o que é comum a todos".

O que é, por meio da pornografia, "comum a todos"?

A destruição do sentimento romântico, ou seja, para que você não fique fragilizado com o amor, a pornografia nos ensina, com muito prazer, que o outro deve ser dominado e, para isso, você precisa, primeiro, de autodomínio.

O que você quer dizer com autodomínio?

Quero dizer que você não pode ser dominado pelo amor romântico, e a pornografia, para isso, racionaliza a prática sexual, exerce domínio sobre o prazer, sobre o sentimento pelo outro. Para o pensamento pornográfico, todo objeto deve ser possuído, isso pertence à natureza pornográfica, possuir com a razão, ou seja, a prática sexual é racionalizada para dominar. É como escrevo em "Filosofia na Alcova": no amor, só há de bom o físico e conservemo-lo apenas quando nos serve.

Mas o amor não é sagrado?

(Sade apenas riu).

Repito: o amor não é sagrado?

O processo de dessacralização da vida cada vez mais se aprofunda, e isso com ajuda também da pornografia.

Dessacralizar não significa violentar?

Sim, mas o sagrado também não exerce sua violência contra lésbicas, trans, homoafetivos?

Há religiosos que colocam a vida acima de ser trans, de ser lésbica.

Você tem razão, assim como Jesus colocou o pecado de Madalena acima da lei judaica, que era apedrejar a adúltera, mas Jesus questionou a lei e salvou Madalena. O sagrado, portanto, salva a vida.