O que será que está acontecendo no bairro que nunca dorme? [o que foi feito dos moradores do edifício Elmar, demolido nos anos 1980?
A pizzaria Sorrento está fechada para sempre. O silêncio do Leme é uma montanha sem sinais aparentes de rajadas de tiros. O quartel não mudou: é silencioso pela própria natureza.
No caminho dos pescadores há uma placa em homenagem ao ator e ex-lutador Ted Boy Marino, que foi morador do bairro por muito tempo. Mais à frente o mar pode ser desafiador e mortífero, tal como numa noite de 1988, quando levou o bailarino Graham Bart para o nunca mais. É preciso ter cuidado com as ondas impetuosas.
O escritor Valterson Botelho dorme tranquilo em seu apartamento cheio de homenagens ao Fluminense, perto do Sindicato do Chope, vizinho de Nelson Rodrigues Filho, outro baluarte. Telê Santana também morava pelos arredores. Um reduto de tricolores.
No Sindicato, pouco antes de se tornar uma mega celebridade nacional, Zeca Pagodinho gostava de beber chope garotinho em pé. Numa mesa próxima, jovens ex-alunos da UERJ gostavam de fazer piada pedindo testículos de boi à milanesa, só para verem as reações das respeitáveis mesas vizinhas.
[Como foi possível o edifício Elmar ter empenado? Agora o supermercado Zona Sul está lá. Que fim levaram os moradores?
Grandes jogos de futebol de praia: Copaleme, Areia, Embalo, Colorado. Babilônia e Chapéu Mangueira formando craques para o mundo.
Ali atrás, na Gustavo Sampaio, é fácil ver Jairzinho, seja trazendo o pão ou sorvendo um trago. Tricampeão mundial em 1970, é o único jogador que marcou gols em todas as partidas de uma Copa do Mundo. Nós temos os nossos maiores da Terra, e eles vão à padaria!
Antes, muitos outros viveram o charme do irmão de Copacabana em seus apartamentos e/ou nas boates locais, nos anos 1950, 1960 e 70: os atores Jardel Filho e Anselmo Duarte, o menestrel Juca Chaves, a Miss Brasil Martha Rocha, as cantoras Marlene e Emilinha Borba, o pintor Candido Portinari, a escritora Clarice Lispector, o showman Chacrinha, o dramaturgo Nelson Rodrigues, o presidente Juscelino Kubitschek, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, a musa Marina Montini, o maestro Egberto Gismonti, o monumental Milton Nascimento, as atrizes Beth Goulart e Rogéria, a multi artista Zezé Motta, a dark singer Waleska. Até Robert de Moto deu as caras por lá, Omar Shariff também. E quem mais poderia definir melhor o cenário do que Elke Maravilha?
"O Leme é uma cidade pequena dentro de uma cidade grande. Não é um bairro de passagem, tenho vizinhos. Cheguei, gostei e fiquei". (Marina Montini, a musa de Di Cavalcanti)
Noites inesquecíveis no Sacha's, Vogue, Fred's, Régine's e outros, muitas vezes registradas pelo colunismo social de Jacintho de Thormes ou Ibrahim Sued. La Fiorentina ainda está firme e forte. O Marius também. O Bar do David no Chapéu Mangueira.
Quando se chega à esquina da praia com a avenida Princesa Isabel, fica o imponente Hotel Hilton, portal do Leme. Mas não adianta: a sede da mais famosa cascata de fogos do réveillon carioca vai se chamar Meridien para sempre.