Tom Jobim, o homem que soube ouvir

Ruy Castro explora o lado menos conhecido do nosso Maestro Soberano em 'O Ouvidor do Brasil'

Por Naief Haddad (Folhapress)

Em mais um livro que trata de Tom Jobim, Ruy castro deixa a música do maestro de lado e se debruça sobre curiosidades da vida do compositor

Em agosto do ano passado, a Academia Brasileira de Letras promoveu uma sessão de "Elis & Tom - Só Tinha que Ser com Você". Na plateia que acompanhava o documentário sobre os bastidores desse álbum de 1974, estava o jornalista e escritor Ruy Castro, que tinha se tornado membro da Academia havia apenas cinco meses.

"Olhei para trás e vi aquelas mais de cem pessoas despejando ondas de amor em direção à tela. Ali concluí que Tom, ao contrário de muitos de seus contemporâneos já idos, na verdade não morreu. Está conosco em todas as instâncias", lembra ele.

Nascia, então, a ideia de um novo livro, "O Ouvidor do Brasil - 99 Vezes Tom Jobim", lançado agora.

O jornalista diz ter percebido que, "nesses últimos 17 anos como colunista, já tinha escrito muito sobre ele". "Pedi à minha assistente Flavia Leite para levantar tudo e vieram 120 crônicas, quase dez por ano! Li todas, descartei 30, meti a caneta nas 90 restantes e escrevi nove novas", conta.

Castro já tinha escrito longamente sobre o compositor carioca em livros como "Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova", de 1990, e "A Onda que se Ergueu no Mar - Novos Mergulhos na Bossa Nova", de 2001. Neste "Ouvidor do Brasil", ele se dedica sobretudo ao homem Antonio Carlos Jobim.

"O livro fala pouco de música porque Tom, em pessoa, falava pouco de música. É um Tom menos conhecido, com seus hábitos, particularidades, preferências (tem até o time de futebol dele), amizades (quase todas fora da música) e, principalmente, sua preocupação com o meio ambiente, quando isso ainda era um assunto estranho para muitos no Brasil."

Surge, então, o porta-voz da ecologia, que denunciava a destruição das matas e a contaminação dos rios, antecipando um movimento que só se tornaria mais popular décadas depois. Também aparece o "maestro piador", que sabia piar como os macucos, os jerebas e dezenas de outros pássaros.

O autor lembra ainda o Tom exigente com as casas em que morava. "Pé-direito bom é aquele em que você entra montado no cavalo e dá vivas à República tirando da cabeça o chapéu de mexicano", dizia o compositor.

Embora não estejam em primeiro plano, as parcerias musicais também são rememoradas - do retraído Newton Mendonça ao bem-humorado Billy Blanco.