Silvio Tendler sob a luz da memória
Realizador de sucessos como 'Anos JK', o documentarista de maior bilheteria no Brasil promove mostra na Casa de Rui Barbosa celebrando o papel libertário da História
Recuperado de uma batalha cirúrgica árdua, após sofrer uma parada cardíaca no agravamento de um estenose aórtica, o papa do documentário histórico brasileiro prepara sua volta às telas na nobre vitrine do Festival do Rio 2024 (3 a 13 de outubro) com "Brizola, Anotações Para Uma História", ao mesmo tempo em que abraça uma nova guerra.
Celebrizado como o maior recordista de bilheteria do cinema de não ficção no país, Silvio Tendler vem aplicando todo o seu conhecimento de História numa outra a arte, a curadoria, a fim de impedir a devastação de nossas recordações simbólicas por meio de uma mostra (preciosa) na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), em Botafogo.
Aos 74 anos, o diretor de fenômenos populares como "Anos JK" (1980) e "Jango" (1984) elencou uma leva de longas-metragens para a iniciativa "Memória, Coração do Futuro", sintonizada com as reflexões sobre os 60 anos do Golpe de 1964. A cada projeção, com cults como "Os Inconfidentes" (1972) e "O Bravo Guerreiro" (1968), o cineasta amplia as funções de um aparelho público de suma importância para o Brasil pela riqueza de seus acervos. Com o aporte curatorial de Tendler, um espaço muito associado à literatura e à museologia passa também a empestar sua telona para imersões estéticas audiovisuais nas causas que alimentaram nossa democracia, da década de 1960 para cá.
Esta noite, às 18h, a Casa de Rui Barbosa exibe "Os Homens Que Eu Tive" (1973), de Tereza Trautman, encarado como um marco feminista na produção nacional. No dia 11 de novembro, é a vez de "Ladrões de Cinema" (1977), de Fernando Coni Campos. Cada sessão é seguida de um debate com convidados, que pode ser visto no YouTube na FCRB. Cada conversação trata de curiosidades de produção, de escolhas formais de direção, de autoralidade e de problemas estruturais e institucionais da realidade nacional.