A estrela sobe

Encarada como um ícone da representatividade trans, Karla Sofía Gascón pode ganhar o Oscar por 'Emilia Pérez', sucesso de bilheteria na França que vai abrir o Festival do Rio

Por

Por Rodrigo Fonseca

Apresentada ao Festival de San Sebastián, em sua Espanha natal, como "a primeira mulher trans a disparar como potencial ganhadora do Oscar de Melhor Atriz", Karla Sofía Gascón cita Sylvester Stallone como referência para a construção do papel que hoje faz dela uma aposta em Hollywood: um chefão mexicano em transição de gênero. Temido, o criminoso Manitas renasce como Emilia Pérez. Seu nome social é o título do musical que vai representar a França na corrida por uma vaga na disputa hollywoodiana de Melhor Filme Internacional de 2025. No dia 3 de outubro, o Cine Odeon vai projetá-lo aqui, na abertura do Festival do Rio. Em terras francesas, a produção vendeu 760 mil ingressos em três semanas, sob o endosso do Prêmio do Júri que conquistou em Cannes. A Croisette também coroou Karla Sofía (e suas colegas Adriana Paz, Zoe Saldaña e Selena Gomez) com uma láurea coletiva de Melhor Interpretação.

Estima-se que a saga de Emilia saia de San Sebastián, onde passa fora da competição oficial, com o prêmio de júri popular.

"Quando eu cheguei a Cannes, ninguém me conhecia e hoje falam de Oscar. Só me incomoda o fato de algumas pessoas que não viram 'Emilia Pérez' dizerem que eu só fui premiada por representar uma minoria. Quem viu sabe que não, e se eu tiver que ganhar outro prêmio que seja pela minha atuação e pela força da personagem", diz Karla Sofía ao Correio da Manhã num papo em Donostia (a alcunha da cidade de San Sebastián em basco).

Sem anunciar se vem ou não para a maratona cinéfila carioca, essa madrilena de 52 anos fez seus primeiros trabalhos de destaque na TV europeia na década de 1990, sob o nome Carlos Gascón. Foi para o México em 2009, onde trabalhou na televisão e integrou o elenco de um blockbuster, "Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara" (2013). Cinco anos depois desse fenômeno de bilheteria, ela assumiu sua nova identidade publicamente. Quando entrou para a trupe de "Emilia Pérez", sob a direção do francês Jacques Audiard (ganhador da Palma de Ouro de 2015, por "Dheepan; O Refúgio"), Karka Sofía pediu ao realizador para deixa-la interpretar a protagonista também em sua fase identitária masculina, encarnado Manitas.

"Queria o arco completo dessa figura, de uma margem a outra", diz Karla Sofía, que encara o êxito do novo Audiard como uma vitória latina. "Eu sou espanhola, mas sei que a visibilidade que encontramos é importante para a comunidade hispano-americana. Saber que um país como a França, tão cioso de sua língua, escolheu um filme ambientado no México e falado em espanhol como seu representante no Oscar é uma vitória. É uma narrativa que amplia espaço para pessoas historicamente discriminadas".