Cerimônia do adeus
Competição pela Concha de Ouro em San Sebastián chega ao fim neste sábado
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Enquanto em Cannes tudo subiu - da passagem do ônibus à casquinha de sorvete com sabor de chiclete - e em Berlim as barracas de salsichão salgam o custo do chucrute, San Sebastián segue com pechinchas na comida (os pintxos, seus acepipes feitos de crustáceos, queijos e presunto) e no transporte público. Isso facilita a visita de turistas para prestigiar seu festival anual. Criada em 1953, a maratona cinematográfica de Donostia (nome da cidade espanhola em basco) fez de sua 72ª edição, que termina amanhã, um estudo sobre a finitude. Múltiplos longas-metragens retratavam o luto. Por todas as suas seções, a se destacar a competição oficial pela Concha de Ouro, a Morte rondou as telas, como tema central de achados como "Le Dernier Souffle", uma aula de roteiro do papa do thriller político, Costa-Gavras.
Aos 91 anos, ele assinou o momento mais lírico da corrida aos troféus principais do evento com a saga de um médico (Kad Merad) e um escritor (Denis Podalydés) que colhem relatos de doentes terminais às vésperas de partir. Charlotte Rampling vive uma das pessoas que se encontram a caminho de desencarnar, momento que o artesão franco-grego chama de "futuro". Tão forte (e belo) quanto esse relato do diretor de "Z" (1969) foi a Comédia Humana dirigida pelo octogenário Mike Leigh, da Inglaterra, de olho na rotina de uma família suburbana (e seus satélites afetivos) cuja liderança feminina cabe a uma mulher irascível, zangada, sem papas na língua, mas apaixonante: Pansy. Nenhum personagem brilhou mais nas telonas do Kursaal e do Principal (salas de exibição mais volumosas de San Sebastián) do que essa figura vivida por Mariane Jean-Baptiste em "Hard Truths". Dos 16 competidores, o novo longa de Leigh (ganhador da Palma de Ouro de 1996 com "Segredos e Mentiras", também com Mariane) foi o que mais teve aplauso. Virou o xodó local.
Não se sabe se toda a badalação em torno de Leigh e de Costa-Gavras vai comover o júri, cuja presidência ficou a cargo da diretora basca Jaione Camborda (vencedora da edição passada com "O Corno do Centeio"). Seu time de juradas/os reúne a jornalista e escritora argentina Leila Guerriero, o ator e diretor americano Fran Kranz, a produtora francesa Carole Scotta e os cineastas Christos Nikou (da Grécia) e Ulrich Seidl (da Áustria).
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