Destaque para os veteranos Mike Leigh e Costa-Gavras

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Entre as alternativas mais sólidas para as láureas a serem atribuídas destaca-se o devastador "Conclave", do germânico Edward Berger (o mesmo de "Nada De Novo No Front") cotadíssimo para o Oscar. Ralph Fiennes tem uma atuação colossal como o cardeal que coordena a escolha do novo papa, num Vaticano ameaçado por atentados terroristas, após o pontífice anterior perecer (ó a Indesejada das Gentes aí). Isabelle Rossellini tem "O" desempenho de sua carreira nesse longa sob o hábito de uma freira geniosa. Se Mariane Jean-Baptiste é a todo-poderosa favorita ao prêmio de Melhor Interpretação Titular como a Pansy de "Hard Truths", Isabelle é a mais cotada na categoria Melhor Coadjuvante - lembrando que o festival ibérico não faz distinção de gênero nessa frente, sem de dividir em "atriz" e "ator". Há um título argentino com firmes chances de vitória: "El Hombre Que Amaba Los Platos Voladores", de Diego Lerman. Sua dramaturgia pode ser coroada por Jaione & cia, assim como o carismático trabalho do astro portenho Leonardo Sbaraglia. Ele revive a cruzada do repórter José de Zer (1941-1997) em busca de óvnis em Córdoba, no limite da fake news.

Para o troféu de Melhor Direção, saltam nos bolsões de apostas os nomes da espanhola Pilar Palomero, por "Los Destellos" (outra narrativa sobre morte anunciada), e da chilena Maite Alberdi, por "El Lugar De La Outra", um tratado sobre sororidade. Há de sobrar algum prêmio para o campeão de bilheteria François Ozon e seu "Quand Vient L'Automne" (sobre uma prostituta aposentada) e algum mimo para o .doc "Tardes de Soleda", do catelão Albert Serra, que deslinda as controvérsias das touradas.

Em seus momentos de despedida, San Sebastián recebe o documentário brasileiro "Apocalipse nos Trópicos", de Petra Costa ("Elena") sobre o rastro do fundamentalismo evangélico nos recentes avanços do conservadorismo no Planalto e fora dele. O Brasil de Petra, uma terra que repudia a intolerância, é o mesmo Brasil que emplacou "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, na mostra Perlak de Donostia, abraçando-o como seu representante oficial para brigar por uma vaga na corrida ao Oscar de 2025. Suas projeções em colo basco foram consagradoras, em parte graças aos desempenhos de Fernanda Torres e de Selton Mello na trama baseada em um romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva. No 7 de Setembro, o drama ambientado em 1971, em 1996 e em 2014 (entre saltos temporais elegantemente editados por Affonso Gonçalves) foi agraciado com a láurea de Melhor Roteiro no Festival de Veneza. Produzido por Maria Carlota Bruno ("No Intenso Agora") e Rodrigo Teixeira ("A Vida Invisível" e "O Farol"), esse drama marca a volta de Salles à ficção 12 anos depois de "On The Road" ("Na Estrada"). No epicentro da dramaturgia há uma família, os Paiva: Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres), filhas e filho (no caso, o jovem Marcelo, que viria a escrever o cult "Feliz Ano Velho"). Destaca-se, a participação de Carla Ribas no papel de uma professora vítima de brutalidade dos agentes de farda verde oliva.

Agora é torcer para o êxito de WS em Hollywood e esperar pelas decisões de Jaione Camborda acerca do melhor de Donostia. Que venham as Conchas.