Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Turquia em 'autofricção'

'Faruk' é um retrato afetivo de um pai por sua filha, sob a direção de Asli Ozge | Foto: Divulgação

Celebrizado por cults como "Verão Seco", de Metin Erksan, "Um Doce Olhar", de Semih Kaplanoglu, e por toda a obra de Nuri Bilge Ceylan ("Sono de Inverno"), o cinema turco promete ecoar nas telas do Festival do Rio 2024, que começa na quinta, pelas vias de uma ficção com tintas documentais (também definido como um documentário com fabulações) chamado "A Perda de Faruk".

A direção é da cineasta Asli Ozge, hoje radicada em solo alemão, mas egressa de uma Turquia em fase de gentrificação em sua estrutura arquitetônica citadina. Na raia da autoficção, esse painel de conflitos geracionais, estruturado pela cineasta em Istambul, foi um dos maiores destaques da mostra Panorama da Berlinale, em fevereiro.

Sua trama parte de um exercício de observação, com ares fabulares, do dia a dia de seu pai, um nonagenário que esbanja carisma. Mas suas atitudes por vezes conservadoras refletem incongruências culturais não só dele, mas de toda uma nação.

"No início do projeto, pensei em fazer um documentário, mas, além da distância imposta por eu viver na Alemanha, havia o problema de que eu não poderia controlar os diálogos do meu pai. Percebi ali que o cinema que me interessava não era o do controle da vida, mas, pelo contrário, o do entendimento, construído pelas vias da ficção", disse Asli Özge ao Correio da Manhã, ao falar de sequências nas quais acompanha as digressões bem-humoradas de Faruk, sua figura paterna amorosa, ainda que rígida, em certas ocasiões. "Na idade em que está, depois de chegar aos 90, ele tem todo o tempo do mundo. Ele passa a entender o passo das horas sob uma nova experimentação. É esse tempo, da liberdade, que me interessa".

Ainda no Panorama de Berlim, a Turquia esbanjou viço audiovisual com "Caminhos Cruzados" ("Crossing"), de Lavan Akin, que abre um debate transfobia a partia da conexão ideológica o entre uma professora aposentada e uma advogada. Uma jovem trans une nas duas neste drama de montagem febril, que hoje pode ser visto na grade da MUBI.

As sessões de "A Perda de Faruk" no Rio acontecem no domingo, dia 6, às 17h, no Estação NET Rio 2, e no dia 9, às 16h, no Cinesystem Botafogo.