A decisão imprevisível de um rei
O espetáculo solo é estrelado por Adyr Assumpção
"Interpretar o Rei Lear é um privilégio e um desafio. É como mergulhar na essência da tragédia humana, explorando as fraquezas de um homem poderoso que, em sua vulnerabilidade, também vai revelando a sua força", comentou Pedrancini. A peça, com uma estética minimalista e recursos audiovisuais, propõe uma experiência sensorial. Diversas projeções são usadas no palco, inclusive para representar os outros personagens da trama, como as filhas Goneril, Regan e Cordélia, e o bobo, também interpretado por Pedrancini. Estes personagens não estão fisicamente presentes, mas suas imagens são projetadas, interagindo com o Lear de forma simbólica e fragmentada, evocando a memória e o tempo.A trama de "Outro Lear" segue a história central do clássico de Shakespeare, mas a montagem destaca temas específicos ligados ao envelhecimento e à fragilidade humana. Lear, no auge de sua idade, revisita suas decisões passadas, seus relacionamentos familiares e os momentos de sua vida que o levaram ao atual estado de solidão e perda. O espetáculo foca especialmente na desconstrução da figura do monarca, tradicionalmente associada à autoridade e poder, mostrando-o agora vulnerável, tentando se reconectar com um passado que já não consegue acessar de forma plena. De acordo com o diretor Roni Sousa, o objetivo da montagem é proporcionar uma reflexão sobre a velhice, um tema frequentemente negligenciado ou até estigmatizado pela sociedade. "Contar essa história é essencial, pois a velhice carrega uma beleza e uma sabedoria que muitas vezes são ignoradas ou até estigmatizadas. Este espetáculo nos permite mergulhar na vida daqueles que, apesar dos desafios do tempo, ainda possuem sonhos, desejos, memórias e uma imensa vontade de viver", afirmou Sousa. A peça também será uma oportunidade para discutir o preconceito contra a terceira idade, ressaltando que o envelhecimento é um processo natural e inevitável.
Apoio Local
Além das apresentações, "Outro Lear" tem se relacionado com a comunidade local por meio de oficinas de Teatro do Oprimido, realizadas desde o início de novembro. As oficinas são voltadas para moradores de Taguatinga com mais de 50 anos, promovendo a reflexão sobre o envelhecimento e a participação ativa da terceira idade na vida cultural da cidade. As oficinas são ministradas por Pedro Ribeiro e têm como objetivo dar voz e espaço para pessoas da faixa etária avançada.