Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

O talento em primeiro lugar

Othon Bastos, o maior ator brasileiro vivo, é consagrado aos 91 com o prêmio especial do júri da Fita | Foto: Divulgação Fita

A Festa Internacional de Teatro de Angra dos Reis (Fita), além de levar centenas de milhares de pessoas a apreciarem teatro da melhor qualidade, realiza todo ano o reconhecimento aos melhores espetáculos, inclusive com a concretização do respeito ao público, com a categoria Voto Popular. Este ano não foi diferente. Foram 17 categorias, com o júri formado por Sergio Fonta (presidente), José Dias (professor doutor e premiado cenógrafo), o jornalista e crítico Dirceu Alves Jr e a atriz Elaine Alves.

A premiação consolidou a altíssima qualidade do evento que, sob a curadoria do corajoso e incansável João Rabelo - o fundador da Fita - e da visionária produtora Maria Siman, trouxe os mais variados tipos de espetáculos extremamente representativos da cena teatral brasileira.

Assim, foram 3 pontos de destaque: "Brás Cubas" e "Kakfa e a Boneca Viajante" receberam o maior número de troféus; a homenagem especial a Othon Bastos que fez o fato teatral do ano, com o monólogo "Não Me Entrego Não", com texto, direção e produção de Flavio Marinho, também agraciado com o melhor texto.

A 16ª Fita se realiza em uma tenda à beira-mar em Angra e, a cerimônia de premiação também aconteceu junto ao mar, na Casa de Cultura Laura Alvim, na praia de Ipanema. Essa reunião permite que a chamada classe - atores, técnicos, autores, diretores, músicos - sinta-se em seu ambiente natural para comemorar o festival que, anualmente, revela novos talentos e prestigia aqueles de longas carreiras.

O momento de maior emoção da festa aconteceu com a homenagem a Othon Bastos, que recebeu o Prêmio Especial do Júri por seu trabalho em "Não Me Entrego, Não!", espetáculo que festeja seus 91 anos. Muito emocionado, o ator subiu ao palco e relembrou que a Fita foi o primeiro festival em que apresentou o seu festejado trabalho atual. "Eu vi hoje por aqui nomes maravilhosos, atores, diretores, produtores, muita gente da nossa classe reunida. E eu peço uma coisa. E é algo que eu quero dizer para que vocês falarem sempre: eu não me entrego, não!", bradou Othon sob fortes aplausos da plateia.

 

Um festival antenado com dramaturgias contemporâneas

Todos os premiados reunidos numa festa que celebra as artes cênicas brasileiras | Foto: Divulgação Fita

Omaravilhoso solo "Em Nome da Mãe", que coroou Suzana Nascimento com o prêmio de Melhor Atriz, é a figura acabada de um teatro contemporâneo que mistura todas as artes em harmonia, com um tema forte, uma ideia extremamente criativa e uma mensagem de pura emoção. A Fita reconhece isso com prêmio Especial pela dramaturgia e concepção crítica sobre o apagamento ancestral da mulher através dos séculos.

Suzana relembrou que precisou de quase dez anos para levantar a montagem, entre diversas idas e vindas e brincou com os indicados da categoria Revelação: "Levei dez anos, não é fácil, mas não quero assustar vocês que estão começando", disse. Paulo de Moraes e Patricia Selonk, fundadores da Armazém Companhia de Teatro, também se emocionaram ao receber o troféu de Melhor Espetáculo por "Brás Cubas". Eles celebraram o fato de a companhia completar 36 anos de atividades ininterruptas e ter resistido por tanto tempo e diversas adversidades. A atriz ainda relembrou que esteve na Fita desde a primeira edição e com muitos outros espetáculos.

"Kafka e a Boneca Viajante", mais um sucesso idealizado pelo empreendedor cultural Felipe Heráclito Lima, o mesmo de "Sapiens", recebe o justíssimo premio do Júri Popular, pois a direção de João Fonseca, o melhor diretor de musicais do Brasil, eleva a fábula da menina e sua boneca a um patamar daquele que atinge a todos os públicos.

Já Bruce Gomlevsky, melhor ator por "Raul Seixas, o Musical", foge da armadilha da imitação e se transforma em um gigante das almas conflituadas, matriz dos verdadeiros artistas.

Os premiados

Espetáculo - 'Brás Cubas'

Espetáculo (Júri Popular) - 'Kafka e a Boneca Viajante'

Direção - Paulo de Moraes, por 'Brás Cubas'

Autor - Flávio Marinho, por 'Não me Entrego, Não!'

Atriz - Suzana Nascimento, por 'Em Nome da Mãe'

Atriz Coadjuvante - Lorena Lima, por 'Brás Cubas'

Ator - Bruce Gomlevsky, por 'Raul Seixas, o Musical'

Ator Coadjuvante - Ricardo Blat, por 'Bonitinha, mas Ordinária'

Cenário - Paulo de Moraes e Carla Berri, por Brás Cubas

Figurino - Analu Prestes, por 'Ensaio para um Adeus Inesperado'

Iluminação - Paulo César Medeiros, por 'Kafka e a Boneca Viajante'

Música - Plínio Profeta e Muato, por 'O Admirável Sertão de Zé Ramalho'

Revelação - Vitor Rocha, por 'Donatello'

Especial - 'Em Nome da Mãe', pela dramaturgia e concepção crítica sobre o apagamento ancestral da mulher através dos séculos.

Especial - Elenco de 'Agora é que São Elas' (Júlia Rabello, Maria Clara Gueiros e Priscila Castello Branco.

Produtora - Isabela Castilho, por 'Kafka e a Boneca Viajante'

Júri Infantil - 'O Menino e seu Circo'

Prêmio Especial do Júri - Othon Bastos, pela interpretação em 'Não me Entrego, Não!', uma declaração de amor à profissão de ator e ao teatro.