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Inspirações gismontianas de geração em geração

Bianca Gismonti: 'Ser filha de Egberto é receber uma dádiva das energias celestiais. Ser tão próxima dele significa regar esta dádiva a cada dia' | Foto: Leo Aversa/Divulgação e Divulgação

Em 1970 Egberto Gismonti gravou um dos mais expressivos álbuns da música instrumental: "Sonho 70". Em 2017, quando o multi-instrumentista e compositor completou 70 anos sua filha, a pianista Bianca Gismonti, conscluiu que a maior homenagem e o maior presente que ela poderia lhe dar seria o de tocar a sua música. Assim nasce o álbum "Gismonti 70". O projeto gravado por Bianca e seu trio em Budapeste no ano seguinte seria mixado e lançado em 2020, mas a pandemia atrapalhou os planos. Só agora, em 2024, a instrumentista finalizou o projeto registrando as fotos que ilustram o trabalho.

"Eu queria que as fotos fossem feitas no ambiente onde morei com meu pai até os 19 anos e aonde ele vive até hoje, que é o seu canto de silêncio e grandiosidade; como um museu de arte da própria vida", conta Bianca.

O Bianca Gismonti Trio gravou "Gismonti 70" com ela ao piano e voz, Julio Falavigna (bateria) e Antonio Porto (baixo de seis cordas e violão acústico). O grupo não se detém apenas ao repertório de "Sonho 70" para embarcar de corpo e alma em criações gismontianas de diferentes períodos da obra de Egberto. Incluindo canções emblemáticas, como "O Sonho" (gravada por Elis Regina) e eternas referências instrumentais, como "Palhaço" e "Lôro", dois verdadeiros tesouros melódicos.

"Foi um período de intensa emoção, já que as suas composições traduzem parte da minha história pessoal. Desde o meu nascimento - e até hoje - venho acompanhando de perto as suas infinitas sementes desabrocharem em árvores grandiosas", conta a artista.

Assim como Bianca, os músicos Julio e Antonio também possuem uma história pessoal com a música de Gismonti. "Durante minha adolescência Egberto e Hermeto eram a fonte para quem buscava caminhos criativos como compositor ou músico instrumental no Brasil", conta o baterista. "Para mim, a obra de Egberto representa a música do silêncio, aonde as coisas verdadeiramente imensas cabem", define o baixista.

Após sete anos da ideia original, no mês de seu aniversário, a filha presenteia o pai com este álbum lançado pela gravadora húngara, Hunnia Records; que irá imprimir em versão física e estará disponível a partir de janeiro de 2025.

"Ser filha de Egberto é receber uma dádiva das energias celestiais. Ser tão próxima dele significa regar esta dádiva a cada dia. Seguir escrevendo a história sonora da família Gismonti nos faz acreditar que o cultivo determina que a raiz e as folhas estejam conversando e florescendo em eternidade. A música do meu pai segue representando a minha certidão de nascimento", conclui Bianca que, além da carreira solo, mantém com a também pianista Cláudia Castelo Branco o aclamado Duo Gisbranco.