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Um sertão dentro do Rio

Os aspectos culturais da população da Zona Oeste pré-urbanização estão na exposição 'Ser-tão Carioca' | Foto: Divulgação

Explorando as raízes e a diversidade de um sertão carioca a partir de xilogravuras, a exposição gratuita "Ser-tão Carioca", do artista Thiago Modesto, está ao público no Museu Bispo do Rosário de Arte contemporânea, em Curicica. As raízes da exposição vêm das memórias da infância do artista, permeadas por contos da sua família, que migrou de outros sertões do interior do estado do Rio para a Zona Oeste da cidade.

"Minha infância foi recheada de contos e causos contados pela minha avó, a família reunida aos domingos ao redor de uma pilha de canas doces e risadas, nutrindo uma saudade de um mundo rural que não vivenciei por mim, mas pelos olhos dos meus familiares", diz Thiago, carioca, designer e gravurista, estabelecido há mais de três décadas em Jacarepaguá. Revisitando essas memórias, as xilogravuras da mostra resgatam e celebram a identidade única desse território.

A expressão "Sertão Carioca" foi cunhada por Armando Magalhães Corrêa. Ele descreveu a vida sertaneja e a natureza da Zona Rural do município, da Baixada de Jacarepaguá até Pedra de Guaratiba. Esses artigos inspiraram o livro "O Sertão Carioca", publicado em 1936. "Talvez pelo contexto da época, Magalhães acabou se deixando seduzir apenas pela fauna e flora, trazendo uma visão estrangeira e rasa principalmente sobre as religiões afro-brasileiras. Percebi que o que mais me interessava não eram apenas folhas, nascentes e pássaros, mas as pessoas que coabitavam essa paisagem com equilíbrio entre a natureza e tradição, mantendo sua cultura ancestral", diz.

As obras para a exposição foram selecionadas em conjunto com o curador Bernardo Marques e a cenógrafa Thais Merçon. "Observando os trabalhos criados até agora, conseguimos traçar um paralelo muito semelhante entre as obras que contam a história da minha família e outras obras que retratam pessoas que conheci durante meu convívio no território denominado Sertão Carioca. A semelhança entre vivências tão distantes geograficamente e similares culturalmente nos saltou os olhos e a partir daí construímos a exposição baseada nas histórias da vida em comunidade e dos pequenos círculos familiares que habitam agora o mesmo território, a Zona Oeste", ele explica.

Thiago viu diversos aspectos das tradições que vivenciou acabarem ao longo do tempo para dar lugar à modernidade. "A vida na metrópole foi ditando seu ritmo em minha família e muitos dos hábitos do interior foram ficando apenas na minha infância. Nessa confusão toda e na mistura desses mundos distintos, existe também minha inquietação como artista visual e xilógrafo, além da minha própria história familiar. Então o termo para mim representa minha essência, me dá sensação de pertencimento e me permite continuar contando histórias que são tão comuns na nossa construção como carioca, porém que são deixadas de lado para dar lugar a uma visão estereotipada do Rio do sal e do sol".

Além da exposição, Modesto oferecerá oficinas de xilogravura para o público, concedendo uma oportunidade única de experimentar a técnica tradicional da xilogravura, explorando as raízes artísticas e culturais do sertão.

SERVIÇO

SER-TÃO CARIOCA

Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea (Edifício Sede da Colônia Juliano Moreira - Estrada Rodrigues Caldas, 3400 - Curicica)

Até 11/11 | Entrada franca

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