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A busca por um lugar de afeto e acolhimento

Acima, a obra que dá nome à exposição e ao lado, Abajur | Foto: Rodrigo Lopes/Museu Bispo do Rosário

OMuseu Bispo do Rosário lançou, no último sábado (18) uma nova exposição com as obras de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989). Intitulada "Um Muro no Fundo da Minha Casa", a mostra individual reúne mais de 100 obras de Bispo, e marca as celebrações da data do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, do Dia Internacional dos Museus, ambos no dia 18 de maio, e faz parte das atividades de 100 Anos da Colônia Juliano Moreira.

Arthur Bispo do Rosário viveu por mais de 50 anos na Colônia Juliano Moreira e reuniu, através do bordado, da costura, do entalhe e da junção de diferentes materiais, um inventário que representasse o mundo para apresentá-lo a Deus. "Ao nos depararmos com o muro no fundo da casa de Bispo, somos levados a pensar em nossas próprias relações com o habitar e seus sentidos. Percorrer o caminho trilhado por Bispo nesta exposição é se deixar levar a lugares de afeto, relações de pertencimento e questionamentos sobre patrimônio e territorialidade. Afinal, quem tem direito de construir um lar todo seu? Sem respostas prontas, a obra e trajetória de Bispo do Rosário nos colocam perguntas e criam novos contornos para discussões ainda pertinentes", destaca Carolina Rodrigues, curadora da instituição.

Para Carolina, a exposição "traz uma nova concepção curatorial sobre as obras de Arthur Bispo do Rosário, pensando em como o seu legado pode ativar discussões ainda tão presentes no nosso cotidiano", afirma. "Nessa mostra, refletimos sobre as consequências das políticas manicomiais na vida da população, levantando questões sobre o direito de habitar e pertencer, principalmente no território da Colônia Juliano Moreira, cuja institucionalização completa 100 anos em 2024", completa.

SERVIÇO

UM MURO NO FUNDO DA MINHA CASA

Museu Bispo do Rosário ( Edifício Sede da Colônia Juliano Moreira - Estr. Rodrigues Caldas, 3400 - Curicica)

Até 30/9, de terça a sábado (10h às 17h)

 

Uma saída pela arte

Nascido em uma família humilde, em Japaratuba (SE), Arthur Bispo do Rosário teve uma infância marcada pela pobreza e pela falta de oportunidades. Aos 30 anos, apresentou os primeiros sinais de esquizofrenia, o que o levou a ser internado em diversas instituições psiquiátricas.

Ao longo de quase 50 anos, Bispo do Rosário viveu recluso em manicômios, onde encontrou na arte um refúgio e uma forma de se expressar. Foi durante sua internação que Bispo do Rosário começou a criar suas obras de arte. Utilizando materiais simples e reciclados, como retalhos de tecido, madeira e tinta, ele produziu um vasto conjunto de obras que refletem sua visão única do mundo.

Sua produção artística é marcada por uma rica simbologia e por uma profunda religiosidade. Suas obras, muitas vezes grandiosas e complexas, retratam temas como a fé, a morte, a loucura e a redenção.

Apesar de ter sido inicialmente ignorado pelo mundo da arte oficial, Bispo do Rosário ganhou reconhecimento internacional nas últimas décadas. Sua obra é hoje considerada um dos mais importantes exemplos de arte bruta do século XX.